Vivemos um tempo em que os responsáveis pelo ensino em Portugal, na ânsia de tudo mudar para que o essencial, o que conta nas nossas vidas, fique na mesma, ou pior, têm vindo, paulatinamente, a expurgar dos manuais da língua e da cultura portuguesa, com desabrida fúria, com criminoso acinte, alguns dos autores mais importantes da nossa literatura, entre os quais se inclui, pela importância que a sua obra tem na nossa literatura, pela forma como tratou a língua, pela superior capacidade narrativa, esse genial escritor que foi Camilo Castelo Branco.
Percorremos todo o programa oficial dos 6ºs aos 12ºs anos da escolaridade obrigatória, e nem um único livro de Camilo é referido num universo, cada vez mais estreito e monolítico, em que avultam, e bem, 3 textos de Manuel António Pina; 2 de Sophia e outros tantos de Ilse Losa e Saramago. Particularmente insólito e chocante a presença no programa do 9º. Ano de 2 autores do Brasil e de um inglês, sendo que nenhum autor autóctone faz parte da lista.
Não bastava aos responsáveis (?) do Ministério da Educação terem retirado dos manuais, por razões de ordem ideológica, esse clássico absoluto da nossa literatura que é Esteiros, de Soeiro Pereira Gomes; de terem ignorado sobranceiramente o magnífico livro de José Gomes Ferreira que é As Aventuras de João Sem Medo, agora, esses doutos senhores, até impõem a um autor como Camilo Castelo Branco o seu grosseiro manto de esquecimento. O que se passa no ensino oficial, no que à nossa Literatura diz respeito, é de lesa cultura e a merecer um amplo e urgente debate público.
A esse silêncio se opôs, e opõe, José Viale Montinho, que à figura de Camilo e à sua incontornável obra literária tem dedicado muito do seu labor crítico, criativo e divulgador. Como acontece com este excelente texto dedicado aos mais jovens, que de forma expedita, didática, com os elementos de humor e de aventura, a servir uma escrita límpida e serenamente eficaz, nos fala e conta a vida e obra desse património literário que é Camilo Castelo Branco, coadjuvado na função pelas belas ilustrações de Sofia Reis.
O resultado deste trabalho, a vários títulos exemplar, reside na forma como o autor(es) construiu este texto e no seu amplo alcance – a um tempo pedagógico, literário e cultural. A suprir lacunas e irresponsabilidades.
A Máquina do Tempo do Professor Candeias, de José Viale Moutinho – edição imprensa académica/2021.