Voz

Escolas

Reflexão contínua

Para muitos, setembro é mês de reencontro. A abertura do ano letivo marca o regresso para muitos e o início de uma trajetória para outros. Bem a propósito, Pascal Paulus, membro da direção d’A Voz do Operário, desvenda um pouco desse caminho que levamos desde 1883.

A redação do nosso jornal pediu-me para escrever uma nota para assinalar o início de mais um ano letivo em quase todo o Hemisfério Norte. Começamos em setembro porque quando também para as crianças do campo e dos trabalhadores das fábricas a escola se tornou uma obrigação, essas crianças tendiam a desaparecer nos meses de colheitas. Os governantes da elite viram-se forçados a adaptar o calendário escolar quisessem eles treinar as crianças nas instituições que criaram. É, portanto, com início em setembro que, ano após ano, as crianças tinham que aprender a tornar-se trabalhadores obedientes de acordo com as prescrições de Lancaster, Lasalle e dos rituais da instrução. Para as elites emergentes na era da industrialização da Europa a escola era um bom instrumento: se as crianças tinham de ir à escola e não à fábrica, então que fosse para prepará-las para o mercado de trabalho.

A reação veio principalmente de círculos intelectuais radicais, mais tarde socialistas e anarquistas: queriam afastar a escola da influência da igreja e dos liberais doutrinários. A educação devia voltar a servir o deslumbramento, dizia Dewey, a descoberta de si e dos outros, dizia Ovide Decroly. Surgiram iniciativas com a desvantagem de custarem dinheiro. Alguns, como Francisco Ferrer com a sua Escola Moderna em Barcelona, puderam fazer uso de doações, mantendo as propinas escolares baixas. Outros como os colégios de Educação Ativa na Grã-Bretanha visavam filhos de intelectuais abastados.

Quem iniciou a Sociedade A Voz do Operário e tinha interesse em criar escolas para os filhos dos seus associados viu a vantagem do cooperativismo e do mutualismo. Desde os primeiros compromissos mutualistas, pouco antes da primeira república até hoje, a instituição proporcionou sempre educação para as crianças dos seus sócios que assim o desejassem. Nos anos 20, existia nas proximidades a Escola Oficina com contactos com a Liga da Escola Nova em toda a Europa. O pedagogo Adolfo Lima envolveu-se com ambas as instituições antes de ser afastado pelo Estado Novo.

Mas é só na década de 1970 que tomou corpo o projeto educativo que A Voz do Operário se propõe hoje concretizar de diversas formas nas suas diferentes localizações e valências. Foi por iniciativa de alguns dos seus antigos professores e educadores de infância. No final da década de oitenta, a então direção fez dessa iniciativa a sua proposta de projeto para todas as crianças dos seus sócios que frequentam as suas escolas.

O que é singular no projeto educativo d’A Voz do Operário é que só se concretiza se houver reflexão contínua de todos os intervenientes no trabalho educativo: crianças, pessoal educativo e não educativo e muitas vezes também pais e avós. É com a prática refletida que o projeto permanece ou cai. Manter essa prática continua a ser o desafio para todos os sócios da instituição no que toca às suas escolas. 

Como sócio e avô de dois netos na Voz, espero ver toda a gente alegre e com força para esta empreitada educacional.

Início do ano letivo 2023/24

O ano lectivo 2023/24 inicia-se com um evento de abertura onde estão presentes todos os trabalhadores, pais, alunos e o diretor-geral d’A Voz do Operário, nas seguintes datas em cada um dos espaços educativos:

Espaço Educativo do Laranjeiro

5 de setembro – 17h30

Espaço Educativo do Lavradio

6 de setembro – 17h30

Espaço Educativo da Baixa da Banheira

7 de setembro – 17h30

Espaço Educativo da Graça (Creche e Pré-escolar)

11 de setembro – 18h

Espaço Educativo da Graça (1º e 2º ciclo)

12 de setembro – 18h

Espaço Educativo da Creche da Ajuda

13 de setembro – 17h

Espaço Educativo da Calçada da Ajuda Graça

14 de setembro – 17h30

Espaço Educativo do Restelo 

18 de setembro – 18h30

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