A 3.ª edição da Gala de Fado d’A Voz do Operário superou as expetativas e consolida-se como um dos mais importantes eventos anuais deste estilo musical em Lisboa.
O histórico salão de festas d’A Voz do Operário, um dos mais bonitos e simbólicos espaços associativos de Lisboa, encheu-se para homenagear os obreiros do fado. Se a Gala de Fado ainda vai apenas na 3.ª edição, a elevada procura antecipada de bilhetes quando todavia mal se havia começado a divulgar o evento mostra que a iniciativa lançada há três anos começa a ganhar raízes na cidade. Houve ainda um grupo de 30 pessoas do Porto que alugou um autocarro e se deslocou até Lisboa para acompanhar António Torre da Guia, homenageado na categoria de Poesia e Literatura, mostrando interesse em repetir a experiência.
O som das cordas e das gargantas de diferentes artistas marcou uma tarde de domingo que trouxe o fado para as luzes da ribalta. A Gala de Fado teve dois momentos importantes: o espetáculo com vários fadistas e a atribuição de prémios a figuras que prestaram ou vêm prestando um papel público e notório para a história e revelação do fado enquanto expressão cultural, reconhecidas pelo seu mérito, inovação, estilo e contributo para o fado e para A Voz do Operário. Uma estatueta da autoria do artista plástico Bruno Netto, que se inspirou na fadista Maria da Nazaré, foi entregue aos homenageados com muitos deles a participarem no espetáculo apresentado por Sandra Celas e Carlos Alberto Moniz. Entre os artistas que protagonizaram o espetáculo musical estão Cláudia Picado, Diamantina, Joana Amendoeira, Sandra Correia, Natalino de Jesus, Marco Oliveira, Pedro Moutinho, Fernando Santos e Humberto Olímpio.
Um dos momentos mais emotivos da iniciativa aconteceu quando Luísa Amaro interpretou Verdes Anos, de Carlos Paredes, com Carlos Manuel Proença. Também Diamantina trouxe a canção Sodade, de Cesária Évora, de forma inesperada também acompanhada por ambos os músicos.
Homenageados
Prémio Tributo, Ricardo Ribeiro; Prémio Compositor, Luísa Amaro e Carlos Manuel Proença; Prémio Lisboa, Esmeralda Amoedo; Prémio Solidariedade, Paulo de Carvalho; Prémio Popular, Vítor Miranda; Prémio Carreira, Rodrigo e Cidália Moreira; Prémio Divulgação, Claf – Amigos do Fado; Prémio Artes e Espectáculo, Simone de Oliveira; Prémio Poesia e Literatura, Torre da Guia; Prémio Revelação, Soraia Cardoso e Luis Carlos.
O fado é parte do ADN d’A Voz
Esta gala distinguiu-se, uma vez mais, pelo seu caráter solidário, com a participação voluntária de todos os artistas, tendo também como objetivo a divulgação do fado enquanto expressão cultural e o reconhecimento público dos seus protagonistas. À conversa com este jornal, Rita Morais, uma das organizadoras, explica que é uma decorrência natural de um percurso que A Voz do Operário e o fado têm feito sempre em paralelo: “é uma história que se confunde muitas vezes porque desde a fundação d’A Voz que sempre houve espaço para o fado aqui dentro, desde iniciativas com concertos e fadistas mas também a difusão dos poetas do fado no próprio jornal”.
Sobre a ideia de homenagear os artistas, Rita Morais recorda que pelo terceiro ano consecutivo se tem o objetivo de valorizar fadistas que muitas vezes são “pouco reconhecidos”. Há artistas conhecidos com muita projeção “mas há uma quantidade enorme de pessoas que alimenta o fado a partir das bases”. Sem este património que cresce nas coletividades e nos bairros, este estilo musical perderia a sua força e a sua raiz popular. “Para a permanente reinvenção do fado é muito importante que as bases continuem a ser algo vivo e muitas destas pessoas que têm um papel fundamental nem sempre são devidamente reconhecidas”, acrescentou.
Durante o evento, o Museu do Fado, através da sua diretora, Sara Pereira, aproveitou para reconhecer o contributo d’A Voz do Operário “na preservação de uma tradição popular tão profundamente enraizada na nossa sociedade”. A mensagem recorda ainda que esta instituição foi um “parceiro fundamental” nos trabalhos preparatórios da candidatura do fado a Património Cultural e Imaterial da Humanidade com destaque para o “papel determinante” d’A Voz “no associativismo, na cultura e na educação”.
Uma iniciativa solidária
Quando a 1.ª Gala de Fado foi lançada, há três anos, A Voz do Operário lançou o desafio de recolher fundos para requalificar esta importante sala de espetáculos. A insonorização e a melhoraria as condições acústicas são alguns dos objetivos desta campanha que se associa às galas de fado. A importância deste espaço para a vida cultural não só d’A Voz mas também da cidade ultrapassa a dinâmica interna da instituição. Os bilhetes deste espetáculo reverteram, uma vez mais, para as obras de requalificação deste icónico Salão de Festas, cujas despesas estão avaliadas em mais de meio milhão de euros.