Participação e inclusão na Baixa da Banheira

São dez e meia da manhã no Espaço Educativo d’A Voz do Operário na Baixa da Banheira. Na sala 1, duas meninas estão na área da dramatização. Estão caraterizadas com diferentes artigos. Não se sabe bem o que representam. Ali ao lado, três crianças fazem a experiência do vulcão no laboratório de ciências enquanto um menino desenvolve uma atividade no laboratório de matemática. As crianças distribuem-se pela sala dividindo-se pelas diferentes áreas até que chega a hora de arrumar e se sentam numa roda para comunicar aquilo que estiveram fazer. Esta é uma dinâmica que pode parecer casual e desprovida de sentido. Mas todos sabem onde estão e o que fazem. Como uma orquestra em que cada um toca um instrumento diferente, tudo é organizado.
A este jornal, Inês Costa, psicóloga nesta escola, explica que “há um processo de reflexão”. Diz que “aqui o poder é partilhado com as crianças e não é o adulto que diz o que as crianças têm de fazer. A ideia é estimulá-las a assumir compromissos”. Susana Machado, coordenadora técnica-pedagógica desta escola, acrescenta que “há a liberdade de as crianças escolherem” mas também há acompanhamento no sentido de as orientar para aquilo que lhes falta fazer nas diferentes áreas de conhecimento. Há sempre uma “postura estratégica”. Vê-se que são ativos nos processos de tomada de decisão, sabem onde está cada coisa, o que há para fazer e que tarefas têm. Susana Machado explica que as crianças “têm noção das tarefas que deixaram por fazer no dia anterior. Atribuem significado ao que fazem e há uma avaliação diária”. Mas vai muito para além disso. Uns têm a responsabilidade de cuidar do peixe que está no aquário, outros vão cuidar da horta e ao almoço há quem tenha de distribuir a fruta e os guardanapos. No fim, arrumam tudo. Inês Costa conta que os pais ficam muito admirados quando as crianças acabam por fazer em casa aquilo que fazem na escola. Tudo isto é surpreendente se se pensar que A Voz do Operário só está neste espaço desde 2013. Hoje, tem 190 crianças e 30 funcionários.

Todos diferentes, todos iguais

Um dos elementos que sobressaem neste espaço educativo é a convivência entre toda a comunidade. Alunos, pais e funcionários contribuem ativamente de múltiplas formas. Susana Machado recorda uma atividade que levou à construção de uma manta de histórias. Uma manta de retalhos que juntou tecidos que cada um trouxe. Como no dia em que se organizou um lanche em que cada família trouxe uma comida tradicional dos seus países. São mais de 15 as nacionalidades que aqui convivem em perfeita harmonia. “O modelo pedagógico e a organização da escola são ferramentas de inclusão. É uma ferramenta contra a exclusão. Os miúdos dão-se sem olhar às diferenças e não vemos as diferenças como diferenciadoras mas como riqueza. As pessoas sentem que a escola está aberta à comunidade e sentem-na como delas”, explica. 

Participação democrática

Rogério Santos, eleito no executivo da Junta da União de Freguesias de Baixa da Banheira e Vale da Amoreira, é peremtório em afirmar que a vinda d’A Voz do Operário para a ali foi um avanço. “Temos um projecto autárquico onde trabalhamos em parceria com as diferentes instituições. O feedback que temos enquanto eleitos é que para as freguesias a escola d’A Voz tem uma enorme reputação. Está referenciada como uma escola de qualidade”, afirma.

A relação com a Câmara Municipal da Moita é igualmente boa, explica a psicóloga Inês Santos. De tal forma, que houve colaboração na dinamização de uma assembleia de crianças de todo o concelho que acabou por se transformar num importante ato de participação democrática. Nada que seja desconhecido às crianças d’A Voz do Operário, habituadas a debater. “Foi no ano passado, em maio, no âmbito da feira anual de projetos em que todas as instituições educativas têm um espaço para mostrar a sua atividade. Durante um dia fecharam o Centro de Exposições e fizeram a assembleia”, descreve. Mas antes houve todo um trabalho preparatório. Houve assembleias em cada sala, depois com os alunos todos da escola e, de seguida, a assembleia com crianças de várias escolas com a presença do presidente da Câmara Municipal da Moita. Os alunos levaram problemas concretos e houve um compromisso da autarquia em resolver cada um destes casos. “Foi um importante contributo d’A Voz para a comunidade.

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