Internacional

Chile

O sol pode voltar a brilhar em Santiago

A 4 de setembro Gabriel Boric vai passar pelo grande teste de um plebiscito que decidirá mudanças na constituição e provavelmente um novo rumo ao país que Allende imaginou, criando condições para que um conjunto de direitos sejam consagrados constitucionalmente.

Os cerca de 15 milhares de eleitores vão aprovar ou rejeitar o novo texto constitucional.

Eleito há cerca de sete meses (a 19 de dezembro de 2021) como candidato do Aprovo Dignidade, uma frente de esquerda que integra o Partido Comunista, o jovem Presidente chileno, Gabriel Boric enfrenta, dentro de aproximadamente um mês, um novo desafio.

Os cerca de 15 milhares de eleitores vão aprovar ou rejeitar o novo texto constitucional, apresentado pela Convenção Constitucional, consagrando um conjunto de princípios e garantindo direitos que permitem a transformação política, económica e social do Chile, país marcado pela política neoliberal que foi encetada depois do Golpe de Estado apoiado pelos EUA, que a 11 de setembro de 1973 levou ao poder o ditador Augusto Pinochet, a morte do seu presidente eleito democraticamente, Salvador Allende e a perseguição e morte de milhares de opositores.

Neste plesbicito, em que o voto é obrigatório e a multa elevada, os eleitores vão poder aprovar um texto que consagra direitos. Fica assim prevista a proibição de qualquer forma de discriminação por motivos de “nacionalidade ou apátrida, idade, sexo, características sexuais, orientação sexual ou afetiva, identidade e expressão de género, diversidade corporal, religião ou crença, raça, associação a povos e nações indígenas ou tribais, opiniões políticas ou outras, classe social, ruralidade, situação migratória ou refugiada, deficiência, condição de saúde física ou mental, estado civil, afiliação ou status social, e qualquer outro que tenha por objeto ou resultado anular ou prejudicar a dignidade humana, o gozo e o exercício dos direitos”.

Num debate organizado pela televisão chilena EMOL um conjunto de especialistas e académicos têm vindo a traduzir e a debater o texto constitucional referindo, por exemplo, a consagração de direitos aos “povos e nações indígenas e seus membros, em virtude de sua autodeterminação”, consagrando o “pleno exercício de seus direitos coletivos e individuais”, e o reconhecimento e garante por parte do Estado do “direito dos povos e nações indígenas às suas terras, territórios e recursos”.

Mas também o direito à “liberdade de pensamento, consciência, religião e visão de mundo” e também o direito de associação.

“Na saúde, o texto constitucional proposto aos chilenos defende um “Sistema Nacional de Saúde universal de caráter público e integrado”.

No plano social o texto constitucional garante a segurança social, “com base nos princípios de universalidade, solidariedade, integralidade, unidade, igualdade, suficiência, participação, sustentabilidade e oportunidade” e o princípio de salário igual a trabalho igual, bem como o direito dos trabalhadores a “uma remuneração equitativa, justa e suficiente, que assegure sua subsistência e a de suas famílias”, o direito à greve e à sindicalização.

Na saúde, o texto constitucional proposto aos chilenos defende um “Sistema Nacional de Saúde universal de caráter público e integrado”.

Também a Constituição passa a assegurar o direito a uma proteção especial aos animais por parte do Estado reconhecendo sua “senciência e o direito de viver uma vida livre de abusos”.

A ser aprovado a 4 de setembro, pelos eleitores o texto constitucional, os chilenos começam a fechar o ciclo que se iniciou com os protestos de 2019, a eleição de Gabriel Boric no final de 2021 e que manda definitivamente para a história mais negra do país a política neoliberal que se iniciou em 11 de setembro de 1971 e que foi traduzido no filme/documentário dirigido por Hélvio Sotto, “Chove em Santiago”, num momento em que a desestabilização no Chile promovida pelos EUA, conduziu à implantação de um conjunto de ditaduras (Brasil, Bolívia Paraguai, Uruguai, Argentina, Chile), de economia neoliberal. Era o tempo da Operação Condor, de perseguição e morte de dirigentes da oposição às ditaduras em todas a América Latina.

Agora, numa altura em que no Perú o sindicalista Pedro Castillo assumiu a presidência, Xiomara Castro foi eleita nas Honduras, Daniel Ortega voltou a vencer na Nicarágua, o Partido Socialista Unido da Venezuela vence em 45% dos municípios, Movimiento al Socialismo vence na Bolívia, Gustavo Petro vence na Colômbia e no Brasil se prepara o regresso de Lula, é caso para dizer que se o texto constitucional for aprovado no Chile, o Sol voltará a brilhar em Santiago.

Artigos Relacionados