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Estados Unidos deixam de novo o mundo à beira da guerra

A menos de um ano das eleições norte-americanas, Donald Trump escolheu o caminho da guerra e ordenou o assassinato do General Qassem Soleimani, uma das mais importantes figuras do Estado iraniano.

Na madrugada de 2 de janeiro, vários mísseis atingiram, em Bagdade, os veículos que transportavam o destacado líder militar, responsável pelas derrotas do Estado Islâmico e da al-Qaeda na Síria e no Iraque.

As primeiras informações obtidas do ataque indicavam que Soleimani – comandante da Força al-Quds, unidade de operações especiais da Guarda Revolucionária responsável por missões fora do território iraniano – e Al Muhandis, subcomandante das Unidades de Mobilização Popular, viajavam em dois veículos separados quando foram atingidos.

No domingo, 29 de janeiro, as forças militares norte-americanas tinham morto pelo menos 25 combatentes e ferido cerca de 50 da Kata’ib Hezbollah, uma das milícias que integram as UMP. O último dia de 2019 ficou marcado por violentos protestos junto à embaixada norte-americana em Bagdade que obrigaram à fuga do embaixador. Donald Trump acusou o Irão de fomentar a violência mas Teerão negou qualquer responsabilidade pelos factos ocorridos no país vizinho.

O Pentágono confirmou que o assassinato foi executado com a autorização direta do presidente norte-americano com o objetivo de “dissuadir futuros planos de ataque iranianos”. À imprensa, o Pentágono acusou Soleimani de “desenvolver ativamente planos para atacar diplomatas e membros em serviço dos Estados Unidos no Iraque e em toda a região” e culpou-o pela morte de centenas de norte-americanos e membros da coligação ocidental que intervém na Síria sem autorização do governo.

Quem foi Qassem Soleimani?

Cresceu no seio de uma família pobre numa aldeia perdida nas montanhas no leste do Irão. Abandonou a escola e começou a trabalhar aos 13 anos como pedreiro. Depois da Revolução Islâmica de 1979, entrou para a Guarda Revolucionária (IRGC). Participou na guerra entre o Irão e o Iraque, duran- te os anos 80, e foi nomeado comandante da 41.a Divisão. Uma década depois, assumiu o comando das Forças al-Quds, unidade de elite da CGRI responsável pelas operações especiais no estrangeiro, cargo que ocupava quando foi assassinado.

Qassem Soleimani foi fundamental para a criação de uma resistência no Iraque contra a invasão dos Estados Unidos em 2003. Durante a guerra na Síria com o Ocidente a financiar e a treinar grupos terroristas para derrubar o regime laico de Bashar al-Assad, para além da Rússia, o Irão, através do Hezbollah e de forças de elite iranianas sob o comando de Soleimani, foi fundamental para derrotar o Estado Islâmico e a al-Qaeda. Operações dirigidas pelo general iraniano impediram que os terroristas chegassem ao poder também no Iraque.

Mohammad Marandi, da Universidade de Teerão, explicou à Al Jazeera que o papel de Soleimani na liquidação do Estado Islâmico fez dele “um herói nacional” no Irão e noutros países do Médio Oriente.

Irão promete “dura vingança”

O presidente do Irão, Hassan Rohani, afirmou no sábado, enquanto visitava familiares de Soleimani, que os Estados Unidos “não perceberam o grande erro que cometeram”. A nação norte-americana “verá as consequências do seu erro não só hoje, mas também nos próximos anos”, advertiu o presidente. “Os inimigos da nação iraniana estavam zangados com os esforços e planos do General Soleimani para a estabilidade e segurança regional. Foi por isso que eles o mataram”, disse Rohani.

Rússia e China condenam ataque

A Rússia e a China vão tomar medidas conjuntas para resolver pacificamente os conflitos no Médio Oriente, anunciaram em resposta ao assassinato de Soleimani. Em conversa telefónica, o ministro russo das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, e o seu homólogo chinês, Wang Yi, concordaram com a inadmissibilidade do uso da força em violação do direito internacional e insistiram na necessidade de todos os países respeitarem a soberania e a integridade territorial de outros Estados.

Já o Ministério dos Negócios Estrangeiros da Síria emitiu uma nota em que “condena nos termos mais enérgicos a agressão criminosa dos EUA” que le- vou à morte de Qassem Soleimani e de Abu Mehdi al-Muhandes e dos demais quadros das UMP – uma organização que recentemente aprofundou com o Exército Árabe Sírio a coordenação das tarefas de controlo e observação anti-terrorista ao longo dos mais de 600 quilómetros de fronteira sírio-iraquiana.

As autoridades sírias sublinham que se trata de uma “escalada perigosa da situação na região” e destacam que as “políticas dos EUA visam gerar tensões e alimentar conflitos nos países” do Médio Oriente, com “o intuito de os dominar e de fortalecer a entidade sionista”, refere a agência SANA.

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