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NATO, ONU, UE, EUA...

A solidariedade onde nunca existiu

Las Vegas, Estados Unidos, 2020. Um sem-abrigo, que costumava pernoitar num centro de caridade, testou positivo ao covid-19. O centro teve de fechar, deixando 500 pessoas sem ajuda. O Estado de Nevada decidiu então que estes seres humanos ficariam em isolamento no parque de estacionamento de um complexo desportivo.

A crise sanitária desencadeada pelo Covid-19 expôs significativamente o conjunto de fragilidades e meras aparências, há muito detetáveis à observação atenta, que apenas programaticamente norteavam as relações internacionais entre muitos estados, diversas instituições supranacionais e interestaduais.

Desde o inicio do mês de Março, e a partir da realidade calamitosa em que a Itália se começou a encontrar, revelou-se a incapacidade (ou falta de vontade política) da União Europeia agir em apoio a um seu estado-membro, quer como organização em si quer pela coordenação de ajuda entre estados. Desde meados de Março, o Centro de Coordenação de Resposta de Emergência da União Europeia recebeu pedidos de apoio de material médico por parte das autoridades italianas, sendo que o Centro apenas reencaminhou esses pedidos de auxilio para os estados-membros, o que segundo o representante italiano na União Europeia, Maurizio Massari, “não resultou”.

De resto, a incapacidade de resposta da União Europeia a crises nos seus estados-membros, a mesma União Europeia que tanto refere a “solidariedade”, já tinha sido comprovada recentemente nos casos dos fogos nos países do Sul ou na “crise de refugiados” em várias fronteiras.

Por outro lado, também a NATO deu resposta similar ao pedido feito por Espanha, de apoio em material médico, tendo alegado constrangimentos de armazém e empurrando eventual ajuda para a disponibilidade dos seus estados integrantes. A mesma NATO que se preparava para realizar no final de Março “os maiores exercícios militares de sempre”, no Leste da Europa, o projeto “Defend Europe 2020”, com mais de 20 mil militares em exercícios orçamentados em 300 milhões de euros.

Entretanto a ONU, cada vez mais um cadáver político, em regime de auto-sustentação e das suas agências e milhares de funcionários entregues à caridade por aí enquanto se vão procurando desenvencilhar das sucessivas acusações de nepotismo e corrupção. Do seu Secretário-Geral, António Guterres, apenas se conheceu parcas palavras apelando ao “cessar fogo” das guerras durante a pandemia, um curto vídeo lavando as mãos zelosamente num quarto de banho, e ainda breve condenação da “desinformação”, apelando à “coordenação”. Perante uma grave pandemia mundial, tem sido este o papel da ONU.

Por estes dias chegam notícias da incapacidade da União Europeia de encontrar não só saídas para o imediato, mas também para o futuro das economias dos estados-membros, e as pequenas medidas já conhecidas apenas merecem condenação(como permitir que estados, como Portugal, possam usar o seu próprio dinheiro). A arrogância e umbiguismo fazem de novo sentir-se entre estados-membros(- como a Alemanha, conhecedora que pela sua força sobreviverá reforçada à crise) com a dianteira mediática tomada pelo ministro das finanças holandês na sua provocatória sugestão de investigações à incapacidade orçamental dos países afetados pelo Covid-19, particularmente dirigido à Espanha.

Se a prática é o critério da verdade, a realidade comprova, num momento crucial, o logro propagandístico que tem pautado as relações e muitas instituições internacionais.

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