África Austral constrói o futuro

Kliptown - Soweto Johannesburg

Na África Austral, países independentes como Angola, Moçambique, África do Sul, Namíbia e Zimbabwe, libertados do domínio colonial e do jugo racista, dão passos seguros rumo a um futuro melhor. Apesar do legado deixado pelo colonialismo e o apartheid, dos problemas políticos, económicos e sociais da actualidade, dos conflitos e guerras e das persistentes ingerências e pressões estrangeiras. 

De «continente perdido» ainda há pouco, a África passou a ser vista, pelas suas imensas riquezas, como o «continente do futuro».

Possui inesgotáveis recursos naturais, é um mercado apetecível, vive um crescimento demográfico exponencial: com 300 milhões de habitantes em 1950 e 800 milhões em 2000, tem hoje 1.300 milhões de pessoas, metade das quais com menos de 25 anos. 

A economia continental progride: na década de 70, o PIB per capita africano era 10% do dos países desenvolvidos mas a partir de meados dos anos 90 a África começou a crescer com taxas médias anuais de 5 a 6%, contra aumentos de 1,5 a 2% nos países do Norte. 

Com estas riquezas potenciais, não é de estranhar a ingerência das potências imperiais (EUA, França, Grã-Bretanha…) em África. Nem as guerras e os conflitos, em geral ateados e alimentados do exterior, de que são exemplos nestes anos mais recentes, a agressão da NATO à Líbia, a intervenção francesa no Mali, a presença militar estado-unidense na Somália, a guerra civil no Sudão do Sul, o caos na República Centro Africana, o «terrorismo islâmico» na Nigéria e na região do Lago Chade, a «guerra de baixa intensidade» no Leste da República Democrática do Congo – tudo isso provocando mortes, fomes, miséria, deslocados e refugiados e bloqueando o desenvolvimento.

Na África Austral, países que conquistaram a independência de armas na mão, como Angola e Moçambique, em 1975, contra o colonialismo, ou o Zimbabwe (1980), a Namíbia (1990) e a África do Sul (1994), contra a opressão da minoria racista, governaram procurando o rápido desenvolvimento e a emancipação social dos seus povos.        

Os governos angolano, moçambicano e zimbabweano optaram por orientações progressistas mas o imperialismo impôs guerras aos seus países, com a conivência do regime do apartheid na África do Sul e de movimentos fantoches, provocando milhares de vítimas e colossais problemas económicos e sociais, cujas consequências perduram.

Apesar disso, nos países que conquistaram a liberdade e integraram a Linha da Frente contra o apartheid – África do Sul, Angola, Moçambique, Zimbabwe e Namíbia, mais a Tanzânia e a Zâmbia –, os movimentos, frentes e partidos que lideraram as lutas independentistas continuam hoje a beneficiar de apoio popular maioritário (o MPLA em Angola, a Frelimo em Moçambique, a ZANU-PF no Zimbabwe, a Swapo na Namíbia e o ANC, aliado ao Partido Comunista e à central sindical Cosatu na África do Sul).

Futuro comum

Para melhor combater a pobreza e o atraso, aumentar a qualidade de vida dos seus povos e acelerar o desenvolvimento, os países da África Austral criaram em 1992 a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

Integram esse organização inter-governamental 15 países (África do Sul, Angola, Botswana, República Democrática do Congo, Lesoto, Madagascar, Malawi, Maurícia, Moçambique, Namíbia, Swazilândia, Tanzânia, Zâmbia, Zimbabwe e Seicheles). Escolheram como lema «Rumo a um futuro comum» – todo um programa a cumprir. Já antes, desde 1980, existia uma organização semelhante, a SADDC, que juntava apenas nove estados membros.    

Os países da SADC somam uma população de 210 milhões de pessoas e um Produto Interno Bruto conjunto de 470 mil milhões de dólares. Ao longo deste quarto de século, a organização regional tem promovido a cooperação e integração económica, assegurado a paz e a segurança comuns, contribuído para a solução política de problemas surgidos nos estados-membros.

Além da SADC na África Austral, existem no continente outras organizações regionais e uma pan-africana, a União Africana. Foi fundada em 2002, em Durban, com 55 estados-membros, e tem sede em Adis Abeba. Sucedeu à Organização da Unidade Africana (OUA), criada em 1963, na capital etíope, por 32 países independentes, então com o propósito central de combater o colonialismo e o neocolonialismo no continente.

Eleições em 2019

Este ano está prevista a realização de eleições em duas dezenas de países africanos, incluindo na Guiné-Bissau (legislativas), em Março, e, antes disso, em Fevereiro, na Nigéria, a 16, e no Senegal, a 24, ambas presidenciais.

Em países da África Austral, haverá eleições no Malawi, no Botswana e na Namíbia. Em Moçambique, o povo irá às urnas em Outubro, escolher o presidente da República e deputados.

De igual modo, na África do Sul, já em Maio, decorrerão eleições gerais, as sextas democráticas desde 1994. Serão escolhidos 400 deputados do parlamento nacional, nove governos provinciais e o chefe do Estado de uma das maiores potências económicas de África. Perspectiva-se que o Congresso Nacional Africano (ANC) e seus aliados conquistem de novo a maioria, o que lhes permitirá prosseguir a construção de uma sociedade desenvolvida e sem exploração na pátria de Nelson Mandela.

Carlos Lopes Pereira

Jornalista

Artigos Relacionados