Edgardo Xavier nasceu no Luso, hoje Huambo, no ano de 1946. Escritor, poeta, crítico de arte, foi comissário das Bienais de Óbidos e da Organização de três das Bienais de Cerveira. Tem publicados quatro livros de crítica de artes plásticas e, entre 2007 e 2020, publicou diversos livros de poesia, dos quais destacamos Amor Despenteado, Canto da Pedra, Íntima Idade, Palavra de Cardo, Vermelho e Não Pise as Formigas. A ficção e os textos para catálogos de exposições são outras das suas vertentes criativas, para além da pintura, território em que é um nome reconhecido e admirado. O seu anterior livro de contos Loendo, constituiu assinalável êxito.
Participou, como crítico e poeta, em diversos programas da rádio e da televisão.
Chocolate, livro que reúne 175 contos breves, é a sua mais recente incursão pelos difíceis caminhos da prosa ficcional curta. Neste género mal-amado, o do conto, que já foi em épocas mais calmas uma vertente estimada e lida da nossa prosa, Edgardo Xavier investe neste livro pela sua abordagem mais difícil: a do conto minimal, ou seja, que têm, a maioria deles, menos do que uma página. Este prodígio de contenção, que é raro, permite ao leitor perdido na voragem do nosso tempo, neste viver em contraciclo com a nossa natureza, conseguir no breve intervalo de uma bica, ou entre paragens nos transportes públicos, percorrer alguns destes textos, sorver-lhe o prazer da linguagem que serve estas estórias breves, e respirar por minutos esquecendo as fadigas do quotidiano.
A escrita, sabemo-lo, o melhor da nossa prosa ficcional, incide no que resguardamos na memória, no olhar que dúctil e sagaz se debruçada nesse agitar contínuo do “real quotidiano” como dizia o nosso querido José Gomes Ferreira. Edgardo Xavier não se ausenta destas premissas, ele afirma sem tibieza: «Estou sempre no que conto na pele de outra pessoa». Quem percorrer o calor, a verdade e a sensibilidade deste intimo discurso, certamente o saberá.
São as memórias de África, de quem lá viveu e jamais esquece, a solidão, as paixões, o amor e a morte, que perpassam por estes contos. Os temas que vamos glosando desde que o homem se deu falante e criou um alfabeto para que as ideias e as estórias se não perdessem, que este livro regista. Está tudo neste Chocolate, que apetece ler devagar, conto a conto, página a página.
«Com a noite a deslizar lenta pela insónia, retomou a leitura de Barranco de Cegos, de Alves Redol». Regressemos aos discursos ficcionais dos autores que teimam em questionar o nosso tempo, entre os quais se inclui Edgardo Xavier e este seu belíssimo Chocolate.