Iniciam-se agora as comemorações do centenário do nascimento do escritor José Saramago, que decorrerão ao longo do ano de 2022 desenvolvidas por diversas entidades e profusos programas, com destaque natural para a Fundação com o seu nome.

O escritor é amplamente reconhecido como um dos expoentes das letras nacionais, tendo sido o único português distinguido com o Prémio Nobel da Literatura, no ano de 1998.

Nascido na aldeia da Azinhaga (Golegã) em 16 de Novembro de 1922, no seio de uma família pobre, logo em novo parte para Lisboa. Teve diversas atividades profissionais antes de se ter dedicado ao mundo das letras como escritor, editor, tradutor e jornalista: foi também metalúrgico, desenhador e administrativo. Fez crítica literária na Seara Nova, foi tradutor de Tolstoi, Hegel e Baudelaire. Dirigiu o Suplemento Cultural do Diário de Lisboa e foi director-adjunto do Diário de Notícias.

José Saramago iniciou em jovem a sua actividade política como antifascista, e no mesmo campo se manteve, tendo sido militante do Partido Comunista Português desde o final dos anos 60, até à sua morte. Tal atividade, se não o impediu de chegar aos mais altos patamares da história da literatura a nível mundial, não deixou de lhe valer tentativas de boicote.

A obra literária de José Saramago vive na curiosa e fabulosa duplicidade de ser profundamente inventiva, sem jamais perder a capacidade de reflectir com concretude as realidades do seu país e do seu tempo, como fica explícito em obras como Manual de Pintura e Caligrafia, Levantado do Chão, Memorial do Convento, O Ano da Morte de Ricardo Reis, A Jangada de Pedra e História do Cerco de Lisboa e A Caverna.

O humanismo, tão característico do autor, tem demonstração inequívoca no romance Levantado do Chão, onde as lutas, a dor, a miséria e a firmeza de lhes fazer frente e sonhar outros amanhãs (tendo como palco o Alentejo) lhe dão corpo.

Das suas mais queridas personagens, ficam Blimunda e Baltazar, de Memorial do Convento, que ocupam o romance com a voz do povo.

Desde o Manual de Pintura e Caligrafia que reflectiu sobre questões prementes do seu tempo e, em A Caverna, elabora mesmo sobre a revolução tecnológica e suas consequências no trabalho e na vida. Pensou muito sobre os homens (eram a sua matéria), seus afectos e suas misérias morais. Mas Saramago não se limitou ou satisfez a constatar a condição dos homens. Perpassa por toda a sua obra um apelo à urgência de transformação. No seu último Caderno de Lanzarote (os seus diários), refere Marx e Engels, na sua célebre frase, «Se o homem é formado pelas circunstâncias, então será preciso formar as circunstâncias humanamente».”Está aqui tudo”, concluiu.

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