Parece cada vez mais claro que há uma narrativa para culpabilizar os partidos à esquerda do PS pelo chumbo do Orçamento do Estado para 2022. O facto é que o governo não só mostrou pouca vontade de negociar como lançou informações falsas sobre as conversações na comunicação social. Disso é exemplo a negociação com o PCP sobre o salário mínimo. O presidente do PS, Carlos César, e o secretário de Estado Adjunto do primeiro-ministro, Tiago Antunes, vieram dizer que o PCP tinha exigido, sem cedências, a subida do salário mínimo para 850 euros já em janeiro, quando na verdade, como revelaram os comunistas, aceitaram 705 euros no início do ano e apenas 800 euros no final de 2022.

Comportando-se como se tivesse maioria absoluta e esticando a corda ao máximo, o PS sabia que tornava impossível a aprovação da proposta com este desfecho. Se agora aponta o dedo ao BE, PCP e Verdes, acusando-os de favorecer a direita, a verdade é que, na esmagadora maioria das vezes, é com a direita que o PS se entende na Assembleia da República. Aliás, em quase cinco décadas, o único período em que não agravou de forma significativa a vida dos trabalhadores foi nos últimos seis anos e precisamente por estar condicionado pelos partidos à sua esquerda. A gula do PS de António Costa é a de aceder à maioria absoluta para se libertar da esquerda e governar à margem dos interesses dos trabalhadores. Foi sempre assim. Com o carimbo do PS, o país aprendeu o que são recibos verdes, chamou duas vezes o FMI, conduziu privatizações de grandes empresas públicas como a EDP, viabilizou as propinas, reformas laborais que pioraram as condições de trabalho.

BE, PCP e Verdes não exigiram enormidades. Propuseram importantes avanços que se traduziriam em importantes melhorias na vida dos trabalhadores e da população. Não pediram eleições, nem a queda do governo, apenas que no Orçamento e fora dele se usasse o atual equilíbrio de forças deste quadro político para inverter as políticas de direita das últimas décadas.

Independentemente do que o futuro próximo nos reserve, sabemos que é a força de todos, a luta de quem trabalha, que pode construir um futuro diferente. É essa força o combustível deste incêndio que se chama esperança.

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