Muitos têm usado de forma utilitarista a estratégia de falar sobre a economia para defender a permanência dos imigrantes em solo Europeu e em Portugal, o que só reforça como o sistema capitalista enxerga a classe trabalhadora, como número, que vende sua mão de obra e mais nada.
Mesmo usando os números como a defesa dos imigrantes, um estudo do projeto Migra Myths, um projeto da Casa do Brasil de Lisboa, apresenta que 66,4% das pessoas inquiridas dizem que os discursos políticos e anti-imigração se convertem em práticas de violência e crimes de ódio contra pessoas imigrantes. Parece que mesmo dando o discurso que o sistema gosta, falando do “lucro”, os imigrantes não estão acolhidos e também não têm os seus direitos garantidos em solo português.
Hoje já somam mais de 1 milhão de imigrantes em Portugal, segundo o relatório da Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA). Em 2025, será que alguém em Portugal pergunta de onde vêm os morangos que compram nas redes de supermercado? Sabem quantas mãos passaram ali? E de onde elas eram? E as condições de trabalho que essas pessoas têm? Como diria Luca Argel na sua nova música, “Quem foi?”, “ as batatas e as couves, quem plantou, quem colheu?”. O fato é que tanto para o Estado, quanto para os grandes empresários, não interessa quais são as condições das pessoas que trabalham ali, interessa o “número” que eles geram. Continuamos a ter pessoas trabalhando em condições análogas a escravidão, mas tudo bem, pois no final contribuem para a Segurança Social. A que custo? O que volta para elas?
É simples mostrarmos com números e interpretações o crescimento da economia em Portugal e na Europa e fazer o recorte para os imigrantes. Quando se lê: ”Imigrantes fazem economia de Portugal crescer o dobro da União Europeia em 2024”, alguém pensa a custo do quê? E de quem? É importante mostrar onde estão os imigrantes, onde está a maior força de trabalho.
Nesta semana, com as eleições na Alemanha, houve uma mobilização em hospitais e clínicas para mostrar como seria trabalhar sem imigrantes. Ficaram todos os trabalhadores parados em frente a câmera e começaram a sair os imigrantes. É forte ver que fica 40% dos trabalhadores sem os imigrantes, talvez essa seja uma boa forma de mostrar que são trabalhadores e não números.
Para mostrar a força dessa classe trabalhadora, precisamos de bem mais que “números”, precisamos partir da ideia de que somos todos trabalhadores, explorados, por um sistema que nos oprime e domina um Estado ineficiente para a população, onde mulheres grávidas, sejam elas portuguesas ou imigrantes, estão sem acompanhamento pré natal, os hospitais fechados aos feriados e finais de semanas, imigrantes que não conseguem renovar a autorização de residência, por ineficiência da AIMA, que foi criada e sofre com as mudanças que não foram concluídas. Que Estado é esse? Estado para quem? Governo para quem?
Recentemente, o primeiro-ministro português, Luís Montenegro, foi ao Brasil participar de uma cimeira sobre a relação Brasil-Portugal e disse que o seu país precisa dos imigrantes, convidando mais brasileiros. Mas vão em que condições? Não conseguem nem tirar documentos, não conseguem arrendar casa, não conseguem acessar a saúde, sofrem violência racista e xenófoba nas escolas e nos trabalhos, não existe uma política de direitos humanos para tratar dessas pessoas.
Não existe e nem deve ter nos próximos anos uma política de valorização dos trabalhadores em Portugal e nem na Europa. Os trabalhadores racializados continuarão a ser a “carne mais barata do mercado”, sendo explorados e inviabilizados pelo o sistema, gera mais lucro assim. Uma política onde se respeite e valorize a cultura, a religião, a contribuição social de cada povo, seria fundamental para entender esse Portugal multicultural que inevitavelmente irá se formar.