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Embarcação a caminho da Faixa de Gaza leva desenhos dos alunos d’A Voz do Operário

Foi uma manhã emotiva n’A Voz do Operário para cerca de meia centena de crianças que receberam na instituição os membros da Flotilha da Liberdade, grupo que pretende fazer chegar ajuda humanitária e a solidariedade internacional, através da embarcação Handala, à Faixa de Gaza.

Handala é uma personagem criada pelo cartunista palestiniano Naji al-Ali em 1969 e é, até aos dias de hoje, um símbolo da luta do povo palestiniano. Handala tem sempre 10 anos, precisamente a idade que tinha Naji al-Ali quando a sua família foi obrigada a mudar-se durante a Nakba, o êxodo forçado dos palestinianos, em 1948. Este menino fictício aparece sempre de costas e deve o seu nome a uma planta muito resistente e amarga que cresce no Médio Oriente e tem o nome de Handal. Com raízes profundas, mesmo que desenraizada, volta sempre a crescer.

Segundo o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM), foi assim que a embarcação de recreio norueguesa Navaren foi batizada: Handala. Navega estes dias rumo à Faixa de Gaza e, à hora do fecho desta edição, encontrava-se na costa francesa, perto de Marselha. Este antigo barco de pesca, partiu no dia 1 de maio de Oslo, na Noruega, e parou em portos da Suécia, Dinamarca, Alemanha, Países Baixos e está a atravessar a Europa a caminho de quebrar o bloqueio ilegal a Gaza, onde deverá chegar em meados de agosto. 

Em cada paragem, as comunidades locais organizam eventos educativos e de solidariedade para divulgar a Flotilha e a agressão à Palestina. O Handala atracou em 3 de julho na marina do Parque das Nações, em Lisboa, onde foi recebido por várias organizações portuguesas, onde se incluíam o MPPM e a CGTP-IN. No dia seguinte, o apoio à missão de solidariedade fez-se sentir com uma iniciativa no Rossio, onde três membros da Flotilha fizeram questão de participar: o português Fellipe Lopes e dois tripulantes palestinos, Youssef Sammour, Primeiro Imediato, e Rana Hamida, que também é artista musical. Também estiveram presentes a investigadora e ativista palestina residente em Portugal, Dima Mohammed, o ator e encenador Fernando Jorge, que interveio em nome das organizações promotoras, e o músico Pedro Salvador.

Desenhos para as crianças de Gaza

A embarcação tem paragem prevista em vários portos do Mediterrâneo antes de chegar a Gaza, na Palestina. A sua principal missão é levar a solidariedade às crianças desse país do Médio Oriente. Desde outubro de 2023, foram massacradas pelas forças de Israel mais de 12 mil crianças. 

Neste contexto, os tripulantes do Handala visitaram A Voz do Operário no dia 5 de julho e partilharam as suas experiências com quase meia centena de crianças da instituição. Durante mais de uma hora, estas conversaram com a delegação da Flotilha da Liberdade composta, para além dos palestinianos Youssef Khalil e Rana Hamada, pelo norte-americano Daniel Bugel-Shunra, a canadiana Lina Zdruli, o norueguês Mats, as irlandesas Caoimhe Buttely e Aoife Siobhan e o galego Bieito Lobeira.

Para além de desenhos da autoria das meninas e dos meninos d’A Voz do Operário, muito elogiados pelos tripulantes da embarcação, as crianças ofereceram ainda frascos de compota feita pelas suas famílias. A coordenadora pedagógica Bárbara Ramires deu uma breve explicação em inglês sobre a história da instituição e a professora Inês Melo ajudou a traduzir as perguntas das crianças e as respostas dos tripulantes.

Muitas destas crianças quiseram saber, sobretudo, a origem dos tripulantes, a trajetória da embarcação, a situação em Gaza e como vivem as meninas e os meninos palestinianos. Tanto Youssef Khalil como Rana Hamada mostraram em folhas de papel como se escreve liberdade em árabe. No fim, houve ainda tempo para uma fotografia de grupo.

Contacto com organizações e movimentos sociais

No mesmo dia, uma delegação da Handala esteve na Casa do Alentejo com várias organizações como o MPPM. Segundo esta organização, foi uma importante troca de ideias, experiências e opiniões num ambiente “fraterno” e “caloroso”. Vários movimentos tiveram oportunidade de colocar questões e falar sobre o trabalho das suas organizações em torno da causa da luta do povo palestino, e ficou assente a determinação de prosseguir essa luta, até que a Palestina seja livre, e até que o seu povo possa efectivamente viver em paz.

Membros da flotilha participaram ainda no 25.º aniversário da Marcha do Orgulho LGBTI+, em Lisboa, na Avenida da Liberdade, denunciando com muitos outros manifestantes o pinkwashing das autoridades israelitas que tentam branquear o genocídio com a sua alegada tolerância com as pessoas LGBTI+. 

Organizada por mais de duas dezenas de associações, a Marcha do Orgulho reuniu milhares de pessoas que desfilaram entre o Marquês de Pombal e o Terreiro do Paço em defesa dos direitos LGBTI+, mas também em luta e solidariedade com outras causas, como o anti-racismo ou a Palestina.

A despedida da embarcação fez-se no dia 7 de julho com a participação de dezenas de pessoas que reafirmaram a sua solidariedade e compromisso com a luta do povo palestiniano e desejando boa viagem aos tripulantes que partiam, então, rumo a Málaga, já na costa mediterrânica. A bordo levam os desenhos das crianças d’A Voz do Operário e uma faixa de várias organizações que diz “Palestina vencerá”.

Como acompanhar o percurso da Flotilha da Liberdade

A embarcação Handala é uma das que compõem a Flotilha da Liberdade. Entre outros, há três barcos na Turquia que pretendem também fazer chegar ajuda humanitária à população de Gaza. Em https://www.vesselfinder.com, é possível acompanhar o percurso pesquisando por Navaren, o nome oficial da embarcação. 

Espera-se que os restantes navios que compõem a flotilha transportem cerca de 5 mil toneladas de ajuda humanitária e centenas de observadores de direitos humanos. Neste momento, a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) reconhece que a população de Gaza vive em abrigos sobrelotados e tendas improvisadas na praia ou em prédios danificados. Muitos dos espaços da ONU foram bombardeados deliberadamente por Israel. Numa das escolas das Nações Unidas, em Deir al-Balah, a situação não permite privacidade às pessoas, as condições de higiene são terríveis e faltam serviços e suprimentos essenciais. Com as novas ordens de evacuação, a UNRWA afirma que as famílias são forçadas a fugir, mas não há lugar seguro para os deslocados. Com a continuação dos ataques, as pessoas vêem-se obrigadas a voltar para áreas destruídas.
A situação em Gaza é catastrófica com uma política intencional de Israel de matar à fome o povo palestiniano. Como potência ocupante, Israel tem a obrigação, segundo as leis internacionais, de garantir a saúde e o bem-estar dos palestinianos em Gaza e na Cisjordânia. Agora, os líderes militares e políticos israelitas têm declarado repetidamente a sua intenção de punir coletivamente toda a população de Gaza, negando-lhe, inclusivamente, comida, água e outra ajuda vital.

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