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Há 50 anos: Alargar a luta em todas as frentes // janeiro de 1974

Em janeiro de 1974, o jornal Avante! custava um escudo e apontava na capa o objetivo para o ano que acabava de começar: “Alargar a luta em todas as frentes”. Segundo o órgão central dos comunistas, clandestino há mais de quatro décadas, 1973 havia sido um ano caraterizado por “um grande reforço da luta da classe operária e de outras camadas da população contra o fascismo”. Nesse contexto, o secretariado do Comité Central do PCP alertava para as medidas demagógicas que o governo fascista preparava para branquear a política de “exploração, de opressão e de guerra” em África.

No distrito de Lisboa, as greves operárias alastram pelas fábricas da cidade. A intensificação da luta verificou-se logo nos primeiros dias de 1974. A 2 de janeiro foi a greve e concentração de praticamente todos os operários da Cometna, de 7 a 9 de janeiro fizeram greve os trabalhadores da Robialac, a 9 os da Dyrup, de 15 a 18 os da Sorefame, a 16 os da Electro-Arco, a 17 os da BIS, da Comportel, do Rossel e novamente os da Cometna, a 17 os da GIL, a 21 os da Melka, a 22 os da CIM, de 26 a 27 os da Tudor, a 28 os da Dialap.

Em pleno fascismo, na Cometna, quase 90% dos trabalhadores assinam um documento a exigir um aumento geral mínimo de 1500 escudos. Sem resposta da administração, decidem parar a fábrica. Os administradores acabam por aceitar um aumento de 1000 escudos para todos, a maior subida de sempre. A luta salarial ganha força no país. No distrito do Porto, 50 operários da UTIC fazem uma paralisação total por aumento de salários. Os operários da Fábrica de Fogões Leão fazem um abaixo-assinado com 200 assinaturas, exigindo o 3º feriado a que têm direito pelo Contrato Coletivo de Trabalho. Cerca de 150 metalúrgicos da Empresa Sepsa fazem uma concentração, exigindo que o 3º feriado, a que têm direito pelo Contrato Coletivo de Trabalho, seja num dia normal de trabalho. A 5 de janeiro, 3 mil metalúrgicos participam numa assembleia sindical no pavilhão Infante de Sagres. No dia 31, 2 mil pessoas participam numa sessão comemorativa do 31 de Janeiro no Coliseu do Porto.

Para além da metalurgia, nos campos agrícolas, na marinha mercante, no setor bancário, o descontentamento crescia nos quartéis onde a guerra colonial recebia cada vez mais contestação. No Forte da Ameixoeira, houve levantamento de rancho e na Escola Prática de Infantaria, em Mafra, uma companhia de cadetes recusou-se a participar no banquete a seguir ao juramento da bandeira gritando “abaixo o fascismo” em frente ao refeitório. Na Academia Militar, a polícia militar interveio depois de cerca de 120 alunos terem gritado “abaixo a guerra colonial”. 

Dá-se a tomada de posse do General António de Spínola como vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas.

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