Voz

Memória

O operário Manuel Petronila

Na década de 1920, um dos livros de divulgação marxista em voga, na URSS e a nível internacional, foi o «ABC do Comunismo», de Nikolai Bukharin e Evgueni Preobranjensky.

Segundo o historiador Stephen F. Cohen, esse livro teve à época um total de “18 edições em russo e fora traduzido para vinte línguas” [Cohen (1990), «Bukharin: uma biografia política», pág. 104].

Esse «ABC do Comunismo» aponta “três formas principais da organização operária”: os sindicatos; as cooperativas; e os “partidos políticos da classe operária (socialistas ou sociais-democratas e comunistas)” [pág. 46, da edição portuguesa de 1974].

Um exemplo concreto da interligação dessas três “formas” clássicas do movimento operário é o percurso militante de Manuel Petronila – operário gráfico na Imprensa Nacional, falecido no dia 6 de março de 1932.

A nível sindical, salientou-se na Associação de Classe dos Impressores Tipográficos de Lisboa (criada em 1898) e foi depois um dos fundadores do Sindicato do Pessoal da Imprensa Nacional (em 1915).

No campo cooperativo, esteve entre os fundadores da cooperativa de consumo dos trabalhadores da Imprensa Nacional.

Na “forma” partidária, foi dirigente do antigo Partido Socialista Português, três vezes eleito membro suplente do seu Conselho Central (em 1915, 1917 e 1922). E por este partido foi vereador da Câmara de Lisboa, assumindo o pelouro das obras (no mandato 1919/23).

Associativismo

Mas, e como tantos outros militantes operários, Manuel Petronila salientou-se também no associativismo de cariz cultural e recreativo. No seu caso foi presidente da «Sociedade Filarmónica Alunos de Apolo» e do «Grémio de Instrução Liberal de Campo de Ourique». Duas importantes instituições associativas da cidade de Lisboa que ainda hoje existem.

No associativismo de solidariedade social, Manuel Petronila foi dirigente de associações mutualistas como a «Tipográfica Lisbonense» e também do «Albergue dos Inválidos do Trabalho» – do qual é herdeira a associação «Inválidos do Comércio».

Manuel Petronila era sócio da A Voz do Operário. E como vereador do município de Lisboa, “influiu em tudo quanto pôde para auxiliar a nossa instituição”. Além de um apoio financeiro que na altura a autarquia atribuiu à A Voz do Operário, “foi também ele que influiu […] para que os trabalhos de calcetamento da entrada do nosso edifício fossem feitos por operários da Câmara Municipal”. E “fora isto, deve-lhe a nossa Sociedade grandes serviços” [A Voz do Operário, 25/10/1925, pág.1].

Fado

Manuel Petronila participou noutra expressão da classe trabalhadora: o fado operário. Foi um guitarrista e também um propagandista, como administrador do jornal «A Canção de Portugal». Era cunhado de um cantador célebre à época: João Maria dos Anjos, também operário da Imprensa Nacional

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