“O Setenta e Quatro fica-se por aqui”. Foi assim que a equipa do jornal de investigação anunciou o fim deste projeto jornalístico depois de quase três anos de atividade. Por dificuldades financeiras, a redação do Setenta e Quatro viu-se forçada a fechar a porta, sendo mais um meio de linha editorial progressista a não conseguir ultrapassar a barreira do financiamento.
“Enfrentámo-la por quase três anos, garantindo sempre a qualidade editorial, mas não a conseguimos derrubar. Mantemos hoje a opinião que tínhamos quando começámos, a de que um projeto jornalístico destes é necessário para a saúde da democracia, mais ainda quando se celebram 50 anos do 25 de Abril e da democracia portuguesa com 50 deputados de extrema-direita no parlamento”, refere a equipa no seu último editorial. “Não ficámos em cima do muro. Tivéssemos nós mais recursos e mais teríamos feito. Tivéssemos nós mais recursos e mais iríamos fazer. Tantos eram os projectos e investigações na agenda”.
Com a crise da comunicação social a ganhar protagonismo nos últimos meses, os membros da equipa caraterizam o país como estando dominado por “precariedade, baixos salários e grandes desigualdades sociais” e sublinham que consideram que o jornalismo é um “bem público essencial para a democracia”. Nesse sentido, recordam que Portugal não tem qualquer política de financiamento público do jornalismo nem um setor forte de mecenato. “É o deserto, e mais redações se confrontarão com o seu fim se nada fizermos enquanto sociedade”.
“Um jornalismo dependente das forças de mercado para sobreviver não será um jornalismo capaz de escrutinar essas mesmas forças”, acusam. Para a equipa do Setenta e Quatro, é hora de debater o financiamento público do jornalismo, “um financiamento que seja direto, estrutural, transparente e independente dos poderes político e económico”.