80% dos trabalhadores da saúde são mulheres. Cuidam noite fora: técnicas auxiliares de saúde, médicas, enfermeiras, técnicas de diagnóstico e terapêutica, trabalhadoras de limpeza, administrativas.
Em múltiplas equipas o trabalho estende-se pelas longas horas em que o corpo pede descanso. À noite as decisões complexas custam mais a ser tomadas, a agilidade física reduz-se, a capacidade de concentração diluída.
O trabalho noturno é anti-natura. É violado o sistema circadiano em que se baseia o ciclo de sono-vigília e a homeostasia humana.
No corpo humano feminino o trabalho noturno repetido significa desregulação hormonal (com consequências nefastas na fertilidade, gestação e amamentação), alterações do sistema gastrointestinal, regulação do apetite, insónia, doença cardiovascular, doença neoplásica – relacionada com aumento de 30% na incidência de cancro da mama.
Por isso o trabalho noturno e por turnos não deve ser vulgarizado para além do necessário nas funções sociais indispensáveis. E nessas, deve ter possibilidade de descanso efetivo entre turnos.
Isto só é possível com um número adequado de profissionais e reforçando e organizando o trabalho durante o horário diurno regular.
Devem ter compensação acrescida remuneratória e bonificação na idade da reforma por desgaste rápido. Devem ter acesso a cuidados de saúde no trabalho dirigidos aos trabalhadores por turnos. Devem ter possibilidade de conciliação efetiva entre a vida laboral e familiar – e isto não se conquista com creches abertas 24h/dia, porque as crianças têm direito a dormir nas suas camas, com os seus adultos de referência, que as acolhem nos pesadelos assustadores e nas noites mais vespertinas.
A vida das mulheres trabalhadoras conta.
Sociedade
MARÇO E A LUTA DAS MULHERES
Elas cuidam noite fora
Começam a trabalhar quando a maioria termina. Rendem outras, iguais, que noutro dia lhes seguirão.
Para trás deixam os filhos a dormir ou um companheiro ou companheira na cama grande demais ou o sossego da casa vazia.
