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O Fado vestiu-se de Gala

Nem sempre o fado se vestiu de Gala, mas foi assim que subiu ao palco n’A Voz do Operário, na 7.ª edição, que homenageou 13 personalidades designadamente Maria do Céu Guerra com o Prémio Artes e Espetáculo, Tiago Torres da Silva, com o Prémio Poesia e Literatura, Cristina Branco e Mariana Correia com os Prémios Tributo.

Foi de tempos difíceis que o presidente da Direção d’A Voz do Operário, Manuel Figueiredo falou na sua intervenção inicial. Recuou aos momentos em que o fado, enquanto “expressão cultural dos bairros operários”, era considerado, por alguma opinião publicada, “um género musical marginal” e que o jornal A Voz do Operário, que comemora este ano 144 anos, assumiu a sua defesa, abrindo as suas páginas à “publicação de poemas de muitos autores” que escreviam para o fado, dando assim um precioso contributo “para a elevação e dignificação deste género musical”. 

O fado haveria de seguir o seu caminho, saltar, contra a vontade de alguns, para os grandes palcos, o jornal “continuaria a ser um espaço aberto para a defesa do fado, enquanto expressão cultural das classes trabalhadoras”, acrescentaria Manuel Figueiredo, lembrando que não só nas páginas dos jornais o fado foi defendido. Por exemplo, Avelino de Sousa, tipógrafo, redator do jornal, dramaturgo e poeta popular foi um dos primeiros fadistas que deu expressão à vocação deste género musical, para expor, denunciar e criticar a sociedade, fazendo do fado, como diria o referido poeta, “a trova educadora , por meio da qual se confraterniza, se chora, se ri, se combate pelo ideal e se condena a imoralidade, a tirania impúdica”. 

E ali estava ele agora, na tarde de 5 de novembro, no Salão de Festas d’A Voz do Operário, vestido de Gala. Coube a Inês Carranca e Tiago Goes Ferreira o papel de apresentadores de um espetáculo que teve, como primeiro momento musical, um trecho proporcionado pelas mãos de José Manuel Duarte, na guitarra portuguesa, de Pedro Soares, na viola de fado, e Nuno Lourenço, na viola baixo. Mas como defende Rui Vieira Nery, o fado é sobretudo o poema, a letra e o jovem Geadas lá estava para lhe dar expressão, interpretando “Sextilhas Soltas”, de Delfim da Silva e do grande fadista Alfredo Marceneiro que, também ele, foi sócio da Voz do Operário. 

Seguiram-se então os primeiros galardoados. Carolina Gomes e Miguel Dias foram Prémio Revelação, ela, uma fadista formada no Clube de Lisboa Amigos do Fado e ele, do Barreiro, e finalista, em 2020, da Grande Noite do Fado de Santa Maria Maior. 

Seguir-se-ia a entrega dos Prémio Compositor a Armindo Fernandes e Miguel Ramos, o Prémio Lisboa a Alice Pires, o Prémio Solidariedade a Joaquim Nicolau, o Prémio Popular a Ana Marta, os Prémio Carreira a Leonor Santos e Natalino de Jesus o Prémio Divulgação ao Grupo Dramático Monte Aventino, do Porto. 

Mas, como disse um dia Alfredo Marceneiro, “o povo, naquela altura, prestava mais atenção ao trabalho do poeta, porque naquele tempo havia poetas grandes que não tinham voz para cantar, mas diziam os versos”. Ora, foi mais ao menos isso que aconteceu no palco do Salão da Voz do Operário, na apresentação do Prémio Poesia e Literatura. O poeta, escritor, letrista, dramaturgo Tiago Torres da Silva, antes de receber o prémio, brindou-nos com o Fado Falado, de Aníbal Nazaré e Nélson Barros, eternizado na voz de João Villaret.

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