Voz

Gala de Fado

Gala de Fado ‘invade’ A Voz do Operário pelo sexto ano consecutivo

A voz feminina que invade o salão projeta para longe a imaginação de quem ouve as palavras escritas pelo escritor David Mourão Ferreira para Amália Rodrigues na canção “Abandono” sobre os presos políticos na cadeia de Peniche. Desta vez é Raquel Maria, o Prémio Revelação Feminina, que carrega consigo a paixão pelo fado por influência do amor familiar pela mais conhecida das fadistas. De tal forma que em 2018 concorreu e venceu o Prémio Amália Rodrigues, no Fundão. É ela que inaugura a 6.ª Gala de Fado d’A Voz do Operário, perante centenas de espetadores que não querem perder aquele que já se tornou num dos maiores eventos deste género musical em Lisboa. 

A ligação entre A Voz do Operário e o fado remonta à sua criação, no final do século XIX. Ao longo da sua história, foram inúmeras as personalidades do fado que ajudaram a manter viva a atividade regular da instituição e as páginas do jornal foram o meio de divulgação de poemas e de defesa do fado enquanto expressão cultural da classe trabalhadora. Tem sido, aliás, esse património que A Voz invoca ao organizar estes espetáculos de solidariedade com o objetivo de recolher apoios para a renovação do salão de festas. Os artistas que aqui participam fazem-no de forma voluntária e Raquel Maria agradece que seja um evento que aposte também na valorização de compositores e poetas “sem os quais não haveria fado”.

Para receber o Prémio Revelação Masculina com a estatueta inspirada na fadista Maria da Nazaré, madrinha da Gala de Fado, foi a vez de Tiago Conceição brilhar no palco. Este jovem fadista de apenas 20 anos, conta, apesar da juventude, com um caminho de vários anos no mundo do fado. Foi aluno da CLAF, tendo já participado em diversos concursos de fado. Já cantou nas residências do Café Luso e foi finalista da grande noite do fado de Santa Maria Maior.

São vários os artistas convidados que vêm dar cor à solidariedade. É o caso de Nadine que agradece à Voz do Operário a “enorme honra” de cantar neste espaço entre todos os homenageados, desejando estar um dia nessa lista. É também o caso de Bruno Igrejas, que afirmou estar n’A Voz desde pequeno, de Carla Cortez, de Pedro Ferreira e de Mafalda Arnauth, cumprindo a promessa do ano anterior de que voltaria para cumprir a actuação que teve que cancelar na altura, por motivos de saúde. Valeu a pena a espera!

Entre os muitos galardões entregues, a Associação de Fado da Madeira levou o Prémio Divulgação. Daniel Gouveia, ao receber o Prémio Poesia e Literatura, lembrou que vai fazer 80 anos e agradeceu aos fadistas que têm dado voz às suas letras, lendo um poema do letrista Artur Soares Pereira no qual recordou que “velho é quem tem a vida cheia de anos e não anos cheios de vida”. Fadista, compositor, letrista e escritor, é autor de letras e músicas de fado interpretadas por nomes como Julieta Estrela, Teresa Tapadas, Linda Leonardo, Nuno de Aguiar ou Carlos Zel.

Por sua vez, Lino Ramos recebeu o Prémio Popular. Este é o homem que canta todas as noites em Alfama e todos os dias cria fãs, tanto pela sua postura como pela sua voz e estilo únicos. É uma figura muito querida pelos amantes do fado popular. Já Marino de Freitas levou o Prémio Compositor. Já em 2006 tinha recebido o galardão para Melhor Viola-Baixo, na II Grande Gala do Prémio Amália Rodrigues. Ao longo do seu percurso, tem acompanhado nomes como Ana Moura, Carlos do Carmo, Cristina Branco, Joana Amendoeira, Jorge Fernando, Maria da Fé, Mafalda Arnauth, entre muitos outros.

Enquanto músico, já tocou junto de artistas como Camané, Fafá de Belém, António Zambujo, Mafalda Arnauth, Hélder Moutinho, Argentina Santos e Florência. Samuel Cabral declarou ao público que o Prémio Compositor era uma “vitamina” e que a gala representava um sinal de “vitalidade” do fado. 

“Eu não sou ninguém sozinho. Eu sou alguém convosco”, afirmou do palco, Jorge Baptista da Silva, Prémio Solidariedade, enfatizando o valor do coletivo. Natural de Cascais, começou a cantar aos 12 anos em casas de fado e em espectáculos, tanto em Portugal, como no estrangeiro. Gravou o seu primeiro trabalho discográfico e aos 19 anos entrou no Conservatório Nacional de Lisboa. Participou no programa “Nasci para o Fado”, da RTP e foi convidado por Filipe La Feria para integrar o elenco “Fado- História de um Povo”. Esteve sempre ao lado d’A Voz do Operário. Pelo meio ainda houve tempo para homenagear o “Zé António”, como era conhecido José António Garcia.

Um dos maiores aplausos da matiné foi para Rita Ribeiro, que recebeu o Prémio Lisboa, que sublinhou que os prémios “são um abraço de carinho”. Recordou que nasceu na Bica, na casa dos avós maternos, virada para o Tejo. Filha dos atores Curado Ribeiro e Maria José, muito emocionada, a cantora levantou o público várias vezes.

Outro momento alto da tarde foi a subida ao palco de António Calvário para levar o Prémio Artes e Espetáculo, um reconhecimento de uma carreira que começou aos 18 anos na Emissora Nacional. Venceu o primeiro Festival RTP da canção e foi considerado durante anos o Rei da Rádio.

Depois, foi a vez de Fernanda Maria receber o Prémio Carreira. Símbolo máximo do fado castiço, foi distinguida em 1963 com o Prémio da Imprensa e em 2006 com o Prémio Amália Rodrigues – Carreira. A tarde terminou com António Pinto Basto, um dos fadistas mais queridos do grande público. O autor de Rosa Branca quis lembrar vários músicos que morreram como José Luís Nobre Costa e Francisco Gonçalves.

Esta gala contou com a apresentação carismática de Inês Curado e Hélder Agapito. De acordo com a organização, a próxima edição da Gala de Fado está assegurada e realizar-se-á a 5 de novembro de 2023.

Artigos Relacionados