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11 de outubro – 140º aniversário do Jornal “A Voz do Operário”

Comemoramos este mês o 140º aniversário do Jornal “A Voz do Operário”.

Nunca é demais recordar que foi em 1879, numa reunião de operários tabaqueiros, em que se debatiam os muitos problemas da classe e se repudiava o facto de os jornais de então terem recusado a publicação de uma artigo sobre os seus problemas e reivindicações, que Custódio Gomes proferiu a célebre frase: “Soubesse eu escrever, que não estava com demoras. Já há muito que tínhamos Jornal; bem ou mal, o que lá se disser é o que é a verdade”.

E nessa reunião foi decidido criar um Jornal dedicado às batalhas laborais e à emancipação dos trabalhadores. Um Jornal onde não fosse preciso mendigar um espaço para a publicação de notícias, porque ele próprio estava ao serviço da causa operária.

E assim, em 11 de outubro de 1879 foi publicado o número inaugural do Jornal “A Voz do Operário”, tendo Custódio Braz Pacheco assinado o editorial, no qual se delinearam as diretrizes do Jornal, designadamente: “pugnar denodadamente pelos interesses materiais e morais da classe que representa; concorrer quanto possível para a educação e moral da classe operária e instrução do povo, defender os que sofrerem injustiças”, prosseguindo noutro texto: “fazermos sentir aos nossos opressores que, pelo trabalho e pela palavra, temos a força precisa para sacudirmos o jugo de ferro que nos quiseram impor, e bem assim demonstrarmos, com argumentos indestrutíveis, que a classe operária desempenha um importante papel no teatro do mundo”. Mas o jornal atravessava dificuldades, tanto organizativas como económicas e em agosto de 1882 é pedida a colaboração dos seus assinantes e na sequência de várias reuniões, foi decidido criar uma Instituição que desse suporte ao Jornal e assim, em 13 de fevereiro de 1883, numa assembleia geral dos assinantes do semanário, nasceu a Sociedade “A Voz do Operário”.

Na década de 1880, muitos editoriais do Jornal são assinados por Angelina Vidal, que vincou no Jornal o seu ardor republicano e defendeu os direitos das mulheres e das classes laboriosas, ao mesmo tempo que combateu as injustiças sociais e o obscurantismo.

Na edição de outubro de 1905, que comemora os 26 anos do Jornal, vem o seguinte texto: “É já longo o caminho andado, convimos; mas é mais longo ainda o caminho a percorrer … não somos daqueles que desfaleçam, ou a quem o ânimo se lhes entibie. Fiéis ao cumprimento da nossa missão, havemos de seguir avante”.

Nas páginas do Jornal ecoou a alegria da República e a preocupação com o seu desmoronamento.

Em 1923 o Jornal refere que “a perseverança é a arma dos fortes … e nós todos, os que constituem a massa imensa dos salariados, que temos um fito, uma aspiração – a emancipação da humanidade sofredora – não podemos parar no caminho andado”.

Na sequência do golpe fascista de 28 de maio de 1926, o jornalista José Fernandes Alves escreve no Jornal que “a ditadura militar não a aceitaremos nós, não a aceitará o povo português, cioso da sua liberdade e das suas regalias” e “sabemos perfeitamente o que se tem passado na Itália e na Espanha, com as odiosas ditaduras de Mussolini e de Rivera, países em que a classe trabalhadora vive esmagada, calcada pelo tacão da bota dos odiosos ditadores”.

A fundação do MUD (Movimento de Unidade Democrática) foi devidamente destacada nas páginas de ”A Voz do Operário”, que esteve presente na reunião que lhe deu origem, em 8 de outubro de 1945. Em 1 de março de 1955, o Jornal é objeto de remodelação gráfica, passando a ser impresso a duas cores, com o título “A Voz do Operário” agora a vermelho. Naturalmente, a revolução do 25 de Abril de 1974 teve no Jornal um grande destaque e regozijo. Aqui se deu conta dos avanços da revolução e das inerentes melhorias das condições de vida dos trabalhadores e do povo, como se combateu os recuos contrarrevolucionários da política de direita que se seguiu, a qual restringiu muitas das conquistas alcançadas.

Este ano, o Jornal deu mais um importante passo, passando também a ser editado on-line.

Embora em condições distintas, passadas 14 décadas, persiste a exploração e a desigualdade social, permanecendo a necessidade de prosseguir a luta por uma sociedade melhor e mais justa, de que o jornal “A Voz do Operário” sempre foi e continuará a ser mensageiro.

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