Voz

Memória

A feminista Maria O’Neill

Terá sido no verão de 1926 que pela primeira vez uma mulher foi eleita para os órgãos sociais da A Voz do Operário.

Maria O’Neill integrou uma das comissões auxiliares da direção desta sociedade que então foram instituídas: a comissão de instrução, educação e arte.

Era uma figura destacada do «Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas», uma associação feminista fundada em 1914, que acabaria dissolvida pela ditadura de Salazar.

Tinha sido uma das organizadoras do 1º congresso feminista em Portugal, em 1924.

Socialismo

“Historicamente, o feminismo surgiu como parte da ideologia burguesa liberal”, dizia Michèle Barrett [em 1983, Marxism-Feminism and the work of Karl Marx, p.202].

Se olharmos para a imprensa portuguesa do primeiro terço do século XX, a face mais vísivel do feminismo parece protagonizada por mulheres de classe média, pequena e média burguesia. Por intelectuais, num país onde cerca de 80% das mulheres eram analfabetas (segundo o censo de 1911). A nível ideológico dominava a tónica republicana.

Escritora oriunda de uma família abastada, Maria O’Neill correspondia a essa imagem. Mas a 1ª República recusou o direito de voto às mulheres. E esta desilusão levou-a a seguir um caminho diferente: em 1919 aderiu a um partido operário e marxista – o antigo Partido Socialista Português.

Foi depois desse passo que desenvolveu a sua actividade na A Voz do Operário.

N’A Voz do Operário

Além do cargo para que foi eleita, Maria O’Neill interveio na A Voz do Operário com artigos no jornal, com conferências e com discursos em vários eventos.

Aqui defendeu a igualdade de género, e outras causas como a solidariedade social, a educação, a paz e a liberdade.

Por exemplo, em 1928, A Voz do Operário comemorou o 10º aniversário do final da 1ª Guerra Mundial, com uma conferência de Maria O’Neill. Aí marcou posição ao afirmar que “o pensamento humano deve ser livre” [A Voz do Operário, 02/12/1928, p.3]. Estava-se em plena ditadura militar…

Ela foi também uma das vozes que se ouviram na comemoração do 50º aniversário do jornal A Voz do Operário, em 1929.

E ao partir para uma longa estadia no Brasil, em 1930, despediu-se com a promessa de “não se esquecer da imprensa operária portuguesa”, à qual se sentia “ligada por uma cadeia de afectos e simpatias” [A Voz do Operário, 08/06/1930, p.3].

A última intervenção de Maria O’Neill na A Voz do Operário terá sido a presidir a duas conferências educativas, sobre “A fraternidade na escola” e “O valor da palavra”, ambas anunciadas para o dia 1º de Maio de 1930.

Em 1930/31 ainda colaborou numa revista socialista do Porto que acabaria encerrada pela ditadura – a Pensamento.

Maria O’Neill faleceu a 23 de março de 1932. Ia a bordo de um navio que fazia a viagem entre Brasil e Portugal. Tinha 59 anos de idade.

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