A dignidade de quem trabalha constrói-se na luta e os laços que se criam entre quem participa ativamente nessa construção são os andaimes para um futuro melhor. O combate contra a exploração é a argamassa que nos une e, muitas vezes, encontramos na solidariedade a força para não quebrar. Também nos gestos e no exemplo de gente que não pisa o nosso chão, que grita consignas noutras línguas, que não vira a cara à luta noutras latitudes.

Lá longe, na outra ponta do Mediterrâneo, vive um povo de gigantes. São mulheres e homens de que a história um dia falará. Vestem-se de coragem todos os dias. Dizem que existir é resistir. E é por isso que os tentam esmagar. Durante semanas, as potências ocidentais assistiram indiferentes ao genocídio contra o povo palestiniano. Os mesmos que entregam ajuda militar à Ucrânia recusam agora auxiliar a Palestina, agredida pelo Estado de Israel. 

Há quem fale repetidamente no que aconteceu a 7 de outubro e que tente dar a ideia de que estamos perante uma guerra entre Israel e o Hamas. Sejamos claros. É mentira. A história da opressão do Estado de Israel sobre a Palestina acontece há 75 anos e querem, uma vez mais, apagar o contexto para que não se perceba que o Ocidente está a fechar os olhos à matança. Os ataques da resistência palestiniana não aconteceram no vácuo, como disse António Guterres, secretário-geral da ONU. Há um passado. Isto não legitima tudo o que a resistência palestiniana faça mas legitima o direito do povo palestiniano a defender-se desta barbárie. 

Em algumas semanas, foram assassinadas mais crianças na Faixa de Gaza do que em todo o ano passado no conjunto de todas as guerras. Quem ache que isto corresponde ao direito de Israel de se defender é cúmplice desta chacina.

Lá longe, na outra ponta do Mediterrâneo, vive um povo de gigantes, que nos ensina todos os dias que sobreviver e existir é resistir. A nossa indignação e revolta são tão mais necessárias quanto mais forçarmos o nosso governo a romper com os responsáveis pelo genocídio em curso. 

A paz é absolutamente necessária mas ela apenas pode construir-se sobre o direito do povo palestiniano a viver na sua terra num Estado livre e soberano. Como na luta contra o apartheid na África do Sul, há que exigir o fim do regime que o promove na Palestina. Qualquer solução que se afaste disto vai manter o carvão da guerra aceso durante mais décadas.

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