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Saídas ao exterior e exploração da comunidade

Os passeios, saídas ao exterior e interação com a comunidade envolvente, assumem cada vez mais, um papel relevante no desenvolvimento do currículo escolar, indissociável do desenvolvimento pessoal e social da criança enquanto parte integrante de uma sociedade. 

Neste sentido, as idas ao exterior revelam-se como uma mais valia para a criança. São várias as potencialidades que poderão ser encontradas quando saímos das “quatro paredes” da escola. As crianças são desafiadas a ir à descoberta de novas experiências, seja em passeios pela comunidade envolvente em que iremos conhecer melhor o espaço onde estamos situados, idas a jardins com espaços livres para metermos todo o nosso corpo em funcionamento, visitas a museus carregados de informação nova, entre muitos outros sítios. 

Na Creche da Graça esta já é uma rotina de que todos se apropriaram e da qual tiramos, não só muito proveito, mas também nos confrontamos com bastantes desafios relacionados, sobretudo, com a idade precoce dos grupos com os quais saímos (1, 2 e 3 anos). Muitas vezes, a idade é, por si só uma questão, não estando muitos dos locais, preparados ou disponíveis para receber estes grupos. Assim, é preciso, primeiramente, encontrar o local onde queremos e podemos ir, dentro daquilo que são os interesses das crianças e valorizando sempre as aprendizagens contextualizadas e significativas. Posto isto, saímos cedo da creche, não esquecendo o piquenique para o almoço, as chupetas para emergências e cansaço extremo, os chapéus que nos identificam e uma grande vontade de descobrir o mundo com os amigos. Chegados ao local, estamos todos curiosos e cheios de vontade de explorar! 

Se pretendemos que a visita tenha significado para todo o grupo, importa que esta seja planeada por todos, antes de acontecer, atribuindo assim, contextualização e antecipação dos momentos que iremos vivenciar. Importa, ainda, que todos saibam o que iremos ver, quais os obstáculos com que nos podemos cruzar e conhecer algumas normas indispensáveis para circular em grupo e em segurança na via pública. Assim, estamos, não só a aprender o nosso papel enquanto cidadão individual na sociedade, como também a expandir o nosso conhecimento sobre o mundo que nos rodeia.

Ao sair da Creche, deparamo-nos com desafios cada vez mais estimulantes. Ao ar livre tornamo-nos fisicamente mais ativos e conhecedores dos nossos limites. O desenvolvimento motor é chamado a intervir constantemente: há passeios e degraus altos, bancos para trepar, escorregas para escalar, jardins para correr, relva para rebolar. No exterior aprendemos a avaliar e a correr riscos, caímos, levantamo-nos, magoamo-nos e fomentamos a resiliência.

No que concerne às experiências sensoriais, os nossos sentidos ficam (ainda mais) despertos: paisagens para ver, cheiros para descobrir, sons desconhecidos, texturas para experienciar, e um piquenique para degustar. As brincadeiras ao ar livre permitem-nos mergulhar no mundo da criatividade através da reinvenção dos significados que atribuímos aos materiais – os paus podem ser varinhas mágicas, as folhas podem ser carros, a relva pode ser uma maratona sem meta e a imaginação a nossa melhor aliada. 

Tendo a rotina um papel tão securizante para as crianças em idade de Creche, há momentos que, mesmo fora da escola, não devem ser desvalorizados. Expostos a tantos estímulos e desafios, o cansaço começa a dar sinais e é aqui que somos convidados a descansar um pouco à sombra de uma árvore, ouvindo os sons da natureza e da vida a acontecer. 

Os grupos heterogêneos (em idade) tem-se revelado uma mais valia (também) nas saídas ao exterior, proporcionando momentos de partilha, interação e entreajuda, verificando-se o efeito e noção de grupo, essencialmente nas crianças mais novas, que através da observação, reproduzem comportamentos sociais das mais velhas. Salienta-se, ainda, a proteção por parte das crianças mais velhas, que assumem um papel de “cuidadores” face aos desafios. 

A comunidade envolvente assume um papel preponderante nos nossos dias. Importa referir que o meio que nos rodeia oferece-nos um leque de possibilidades de exploração bastante apelativas e diversificadas. Frequentemente trocamos os recreios da escola por idas a parques, convidando grupos de outras valências, promovendo assim a socialização. Temos também, a oportunidade de observar a cidade com outros olhos nos miradouros e, de nos deslocarmo-nos de elétrico. 

Procuramos que as partilhas das famílias surjam como pontos de partida para as nossas idas ao exterior. Facilmente, a partilha de um momento de culinária se pode traduzir numa ida à mercearia mais próxima, a ida a uma exposição pode resultar numa visita cultural.

Saímos com o objetivo de olhar, ver e observar. De, no final do dia trazer “uma mochila” cheia de explorações, vivências e memórias felizes para mais tarde partilharmos. Regressamos cansados de carregar mais um pouco do conhecimento deste mundo e de termos dado mais um passo na nossa construção enquanto grupo e em quanto ser individual.

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