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Proximidade e confiança: construindo a relação entre a Creche e a Família

Em Portugal, o Sistema Educativo não prevê que as creches façam parte integrante do processo da educação de uma criança, considerando que “a educação pré-escolar é a primeira etapa da educação básica no processo de educação ao longo da vida, sendo complementar da ação educativa da família, com a qual deve estabelecer estreita cooperação, favorecendo a formação e o desenvolvimento equilibrado da criança, tendo em vista a sua plena inserção na sociedade como ser autónomo, livre e solidário.” Não sendo obrigatória, ainda hoje há crianças que apenas têm este contacto aos cinco anos, ano anterior à entrada na escolaridade obrigatória.

N’A Voz do Operário, consideramos que é na Creche que se dá o início de todo o processo educativo da criança, sendo urgente repensar e refletir sobre a visão atual desta valência, imprescindível a vários níveis na nossa sociedade.  

Do ponto de vista da criança, o primeiro momento de separação da família pode não ser fácil, mas é certamente compensador à medida que vai crescendo. Todas as crianças precisam de brincar e socializar com pares com diferentes experiências de vida, contando, assim, com a oportunidade de aprender sobre si e sobre os outros à sua volta.

Do ponto de vista das famílias, deixar uma criança tão pequena ao cuidado de outras pessoas pode também trazer dor e momentos angustiantes, associados a medos e dúvidas, devido à ligação intensa nos primeiros meses de vida do bebé. Mas é também uma necessidade social, já que os pais têm de trabalhar e muitas vezes não têm o suporte de uma rede social que possa ficar com as crianças. 

O momento da primeira conversa entre a família e o educador, bem como a forma como a separação é planeada, é fulcral para que a adaptação da criança e da sua família à escola e aos educadores decorra de forma calma e tranquila para todos os intervenientes. 

Quando falamos em Creche, temos de ter em conta a faixa etária – crianças muito pequenas, com idades compreendidas entre os 3 meses e 3 anos, cuja comunicação oral está em pleno desenvolvimento. O olhar atento e reflexivo dos adultos é fundamental para ajudar a verbalizar sentimentos, vontades, interesses e curiosidades das crianças, mas também para securizar as famílias que deixam as suas crianças em segurança. Por isso, é tão importante a boa comunicação e partilha entre adultos. É essencial conhecer o contexto e a história das famílias e das crianças com quem trabalhamos, para que possamos adequar o nosso comportamento a cada uma delas, valorizando e respeitando a diferença, destacando o isomorfismo pedagógico, característico do Movimento da Escola Moderna. Enquanto Creche, importa-nos que a família seja um elemento ativo em todo o processo educativo, para que se possam estabelecer assim, relações de confiança e de proximidade entre todos os membros da comunidade educativa. E é assente nestes pilares que promovem a cooperação, a partilha e a entreajuda que a Creche se constrói como um lugar de afetos que valoriza a rotina, os hábitos, os gostos e interesses de cada criança e de cada família, fazendo parte do seu papel construir um lugar comum a todos. 

N’A Voz do Operário, vemos a criança como nosso semelhante, como um ser competente, sendo a sua voz essencial na afirmação do protagonismo e cidadania, bem como no seu processo educativo.

A prática pedagógica do educador em Creche deve integrar o incentivo da participação e envolvimento das famílias no decorrer do dia a dia. Acreditamos que apenas com uma relação próxima entre a Creche e a família, se conseguem construir circuitos de comunicação que facilitem a troca de informações essenciais ao desenvolvimento das crianças.

Acreditamos ainda, que o envolvimento da família na vida do grupo enriquece o ambiente educativo que nele se vive. A vinda das famílias à sala para fazer uma atividade, participar num evento ou colaborar nas dinâmicas da rotina diária, constitui uma forma de aproximação não só da família ao ambiente escolar, como da família a todo o grupo e a cada criança individualmente, permitindo assim que crianças e adultos construam relações fortes e seguras.

Do ponto de vista da criança, ter um familiar na sala é um momento importante não só a nível emocional, ao sentir a sua individualidade valorizada, como também a nível social, tendo a oportunidade de se sentir cada vez mais segura no contexto educativo, uma vez que as pessoas que lhe são mais próximas (pais, tios, avós, irmãos), demonstram confiar naquele espaço e naquelas pessoas.

Relação de proximidade e confiança durante o confinamento

Na conjuntura atual, acreditamos que é urgente mantermo-nos fiéis aos nossos princípios e valores, priorizando os interesses e necessidades das crianças e das suas famílias. 

Assim, a nossa prática pedagógica durante o período de confinamento, continua a basear-se na escuta ativa e na flexibilidade, de modo a respeitar a individualidade de cada criança, bem como da sua dinâmica familiar, tendo como principal objetivo a proximidade e acompanhamento de todos.

Através de diversas plataformas digitais, educadores e famílias combinam encontros diários (equipa pedagógica-crianças-famílias e equipa pedagógica-famílias), em dinâmicas diversas que abrangem grandes grupos, pequenos grupos e acompanhamentos individuais. Durante estes momentos surgem partilhas de interesses e de necessidades, possibilitando ao educador não só o acompanhamento do desenvolvimento da criança, bem como a sugestão de diferentes estratégias que possam ser integradas nas dinâmicas familiares.

Embora não possamos estar fisicamente juntos, a participação e o envolvimento das famílias, bem como a partilha de dinâmicas familiares, continuam a ser um mote para o desenvolvimento de aprendizagens significativas, podendo, desta forma, um interesse individual tornar-se num interesse do coletivo.

Continuamos juntos e a trabalhar em parceria, para benefício daquelas que serão sempre a nossa prioridade: as crianças.

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