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Avaliar, planificar e dialogar para aprender (TEA)  

A maior parte da educação do dia-a-dia nas escolas dedica-se a transmitir factos e teorias às crianças que as frequentam. O professor é considerado uma autoridade que, supostamente, deve passar às crianças o saber e conhecimentos que possui. Foi esta a escola que quase todos vivemos enquanto alunos.

No entanto, no Modelo do Movimento da Escola Moderna (MEM) a criança assume-se como ser participante e ativo nos processos de planeamento e avaliação, de forma cooperada e negociada com os professores que partilham, desta maneira, as responsabilidades educativas através do diálogo e de práticas sociais em comunidades de aprendizagem.

Uma das componentes deste Modelo é o Tempo de Estudo Autónomo (TEA). A gestão do trabalho no TEA e a regulação através do Plano Individual de Trabalho (PIT) é uma preocupação diária. Refletimos sobre o planeamento do PIT (O que planear? Quais os compromissos? Como gerir o tempo?); Os apoios e parcerias durante o TEA (O que é ajudar? Quem pode ajudar? O meu apoio promove a dependência ou a autonomia das crianças? Quem apoiar?); A avaliação do PIT (O que é trabalhar bem?); os conteúdos trabalhados/a trabalhar (Como posso verificar se aprendi? Quando posso fazê-lo e como sem ser apenas com uma ficha de avaliação final? Para que serve a minha avaliação?).

As crianças têm o direito de serem informadas, orientadas e ajudadas, de maneira a intervirem nos processos de planeamento e avaliação com sugestões e iniciativas consistentes; tais processos procuram concretizar os valores democráticos que tanto procuramos. Para isso, todos os PIT são comentados na quinta-feira/sexta-feira para que depois as crianças possam lê-los e considerá-los na sua avaliação e planeamento do trabalho da semana seguinte, refletindo sobre as conquistas e dificuldades. Fazemos um balanço coletivo do que foi trabalhado e, de seguida, debatemos o trabalho realizado por cada um em TEA. Refletindo sobre os comentários as crianças tomam consciência de certas dificuldades e iniciam o processo de trabalho para as superar.

Através desta forma de avaliação dialógica, a aprendizagem é estimulada, o que confere à comunicação uma função reguladora da aprendizagem cooperada, num contexto em que “todos ensinam e todos aprendem”.

Ao longo do TEA as crianças cumprem os compromissos definidos, sendo que a aprendizagem existe quando todos os elementos que fazem parte do contextos, adultos e crianças, participam e agem ativamente numa comunidade de prática. Isto é, num meio em que todos os elementos trabalham e se organizam em cooperação em torno de um “projeto de ação conjunto”, assumindo compromissos recíprocos num ambiente partilhado e social em que se partilham opiniões (através do diálogo e da escrita no PIT em que se negoceiam significados) e recursos, construindo novas capacidades e conhecimentos.

As parcerias podem também ser úteis, tanto para os alunos que têm dificuldades como para os outros que pensam já dominar determinado conteúdo, para que estes tomem maior consciência das suas próprias dúvidas. As crianças demostram maior satisfação no trabalho quando este é realizado em cooperação, em oposição de quando este é realizado em situação competitiva, sendo que o trabalho cooperativo contribui igualmente para uma autoestima superior de cada criança. Em estruturas de aprendizagem cooperativa as crianças revelam maior aceitação pelos outros, o que implica, necessariamente, um melhor relacionamento com os colegas por oposição às crianças competitivas – isso é visível inclusivamente na avaliação realizada pelos alunos a nível das parcerias no PIT onde os mesmos comentam este momento de trabalho de forma construtiva aconselhando os colegas com estratégias de estudo e incentivando-os a ultrapassar dificuldades.

Outro momento privilegiado no TEA são os apoios individualizados com o professor, sendo que é importante que todas as crianças tenham direito aos mesmos para que se sintam apoiadas e para que o próprio professor possa compreender/aperceber-se das necessidades de cada aluno e os consiga apoiar de forma a que estes ultrapassem e tomem consciência das suas dificuldades. Só assim conseguiremos que os alunos avancem no TEA, dando-lhes e permitindo-lhes ter também a sua autonomia, capacidade de reflexão e consciência do seu próprio processo de aprendizagem. 

Assim, o trabalho autónomo e acompanhamento individual  refere-se a momentos em que o adulto deve criar condições para que as crianças tenham tempos, espaços e recursos materiais que melhor permitam as suas aprendizagens, enquanto observa as dificuldades das crianças e as ajuda respondendo às suas necessidades individuais, estimulando desta forma o seu desenvolvimento.

Existem ainda todas as semanas propostas de treino dos conteúdos trabalhados, tal como propostas de verificação – utilizadas como “testes” para avaliação. Neste processo, são os alunos que decidem e refletem sobre quando se devem propor à verificação escolhendo o conteúdo a avaliar. Assim, não avaliam os mesmos conteúdos ao mesmo tempo e sempre que realizam uma proposta de verificação, se não tiverem sucesso, voltam a estudar, podendo realizar mais tarde uma nova proposta de verificação sobre o mesmo conteúdo.

Diariamente as crianças responsabilizam-se por colaborar no planeamento, regulação e avaliação de atividades, notando-se um grande interesse em participar, evoluindo a nível pessoal e social. Esta dinâmica não surge do nada, devendo ser trabalhada em conjunto por adultos e crianças e incentivada principalmente pelos professores nas suas práticas, o que implica ter em conta, não só aspetos comunicacionais, mas também organizacionais que promovam uma cultura de cooperação no grupo.

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