Voz

Memória

Centenário da morte do operário Saul Pacoldino Fernandes

Madrugada de 29 de Janeiro de 1922. No bairro da Mouraria, Lisboa. 

Falecia o então director do jornal A Voz do Operário.

Seu nome era Saul Pacoldino Fernandes. Tinha 66 anos de idade e o ofício de operário charuteiro.

Foi durante décadas um dos grandes activistas das lutas sindicais dos trabalhadores da indústria tabaqueira – além de ter sido um dos responsáveis pela sociedade A Voz do Operário.

Na sua biografia salienta-se também o facto de ter sido um dos dirigentes iniciais do primeiro partido político operário em Portugal: em 1877/78, ele foi membro do “conselho central” do antigo Partido Socialista Português, ao lado de Azedo Gneco e José Nobre França.

E mencionamos ainda a sua participação na luta pelo direito à habitação. Em 1919, e na sequência de uma grande mobilização do movimento sindical em que ele participou, Saul Pacoldino Fernandes foi nomeado pelo governo republicano como um dos quatro membros de uma comissão revisora da lei do inquilinato. Na altura ainda não existia a Associação dos Inquilinos Lisbonenses, ele foi nomeado como representante da Sociedade A Voz do Operário [Diário do Governo, 2ª série, 04/12/1919].

Saul Pacoldino Fernandes via na A Voz do Operário uma “prova real e indiscutível de que o povo pode realizar grandes cometimentos, desde que se associe” [A Voz do Operário, 12/10/1913, p.2].

Director deste jornal desde o final de 1910, guardava um grande respeito pelos seus fundadores, operários tabaqueiros como ele.

Evocava-os como “humildes trabalhadores, pertencentes a uma das classes mais desprotegidas” que, “compenetrados da verdade de que a emancipação dos trabalhadores tem de ser obra deles próprios” e “num momento de angústia e revolta”, criaram este jornal “para defender os seus direitos postergados pela imprensa burguesa”.

Quando os “manipuladores de tabaco” criaram A Voz do Operário “formavam uma das classes mais pobres que existiam em Portugal”. Mas Saul não dizia “das mais infelizes, porque ela tinha coragem e energia para lutar, e quem possui estes predicados nunca é das mais infelizes; no entanto, a sua situação era das mais precárias”.

Apelava para “que os vindouros se lembrem, com uma recordação saudosa, desses obscuros, que iniciaram a grandiosa obra de que nós nos orgulhamos”. [A Voz do Operário: 15/10/1911, p.2; 13/10/1912, p.1; e 12/10/1913, p.2]

Neste centenário da sua morte, não será justo fazer o mesmo apelo em relação ao próprio Saul Pacoldino Fernandes?

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