Opinião

A Voz

Mensagem do presidente da direcção

Manuel Figueiredo, presidente da direcção d’A Voz do Operário.

Começam a surgir os primeiros elementos estatísticos relativos a 2022 e eles mostram que foi um ano de agravamento das desigualdades em Portugal.

Quanto ao principal indicador, o Produto Interno Bruto (PIB), os dados provisórios divulgados pelo INE apontam para um crescimento de 6,7%, o mais elevado dos últimos 35 anos (deve notar-se que o PIB é registado a preços constantes, ou seja, sem o efeito da inflação, em termos correntes, o seu acréscimo foi superior a 14%). Trata-se assim de um aumento real da riqueza produzida em Portugal. Mas como podemos constatar, as condições de vida agravaram-se para a grande maioria dos portugueses. Então onde foi parar aquele acréscimo de riqueza? Essa é a pergunta que deveria ser feita e debatida pelos meios de comunicação social. E porque será que não a fazem?

Para os trabalhadores e reformados não foi comprovadamente. Os salários e as pensões tiveram atualizações bem abaixo da inflação, pelo que estes viram o seu rendimento real degradar-se face ao ano anterior (ainda não existem números detalhados, mas tudo aponta para uma forte redução do peso dos salários no PIB).

A resposta é simples, o grande capital não só se apropriou na íntegra do aumento do rendimento gerado no nosso país, como ainda foi buscar mais uma importante maquia ao rendimento de quem trabalha ou trabalhou.

A comprovar este facto estão os números que vão sendo conhecidos relativos aos lucros que os principais grupos económicos obtiveram em 2022, designadamente no setor energético, na banca e na grande distribuição.

A Galp anunciou lucros de 1.104 milhões de euros e tudo aponta para que outros grupos económicos do sector apresentem igualmente números astronómicos nos seus resultados, naturalmente obtidos à custa da especulação com os preços da energia.

Os lucros da banca, que aos poucos se vão conhecendo, também apontam para um grande crescimento. Os bancos privados terão lucrado 4,4 milhões de euros por dia. Isto naturalmente à custa dos portugueses que viram os custos dos seus créditos (habitação à cabeça) ter um enorme crescimento, provocados pelo acréscimo das taxas de juro, ao mesmo tempo que a banca manteve as comissões que cobra a um nível altíssimo e praticamente não remunera as parcas poupanças dos portugueses.

Como é natural, o aumento dos encargos com o crédito à habitação tem um efeito direto no aumento do valor das rendas de casa, tornando cada vez mais difícil o acesso a habitação digna para largas camadas da população.

Mas nestas alturas há sempre um banqueiro que, do alto dos seus privilégios, vem afirmar que afinal o povo vive bem de mais. Há uns anos, um desses senhores disse que era necessário baixar as condições de vida das pessoas, que o povo “aguenta, aguenta”. Agora vem o presidente do Santander Totta, criticar o comportamento dos portugueses, com “padrões de consumo elevados, a jantarem fora à sexta-feira”.

Apesar de sabermos que infelizmente muitos portugueses não têm condições para jantar fora nem sequer uma vez por mês, a postura deste senhor é elucidativa do que pretendem. Para eles próprios, todas as regalias e benesses deste mundo. Para a generalidade dos portugueses, uma vida que se cinja à mera reposição da sua capacidade de trabalho.

Também a grande distribuição se prepara para apresentar lucros que apontam para um forte crescimento relativamente a 2021 (ano em que os seus lucros já tinham sido muito avultados, tendo representado um dos seus melhores anos).

Tal como no sector energético, o aumento dos produtos alimentares não teve no essencial a ver com o aumento do custo dos fatores (que o digam os agricultores e outros pequenos produtores, que ao invés viram as suas margens reduzirem-se).

Como se comprova, o aumento real da riqueza gerada em 2022 não foi parar ao bolso da generalidade dos portugueses, mas sim ao de uns tantos. A grande maioria dos portugueses viu a sua situação deteriorar-se com o desmesurado aumento do custo de vida.

Infelizmente, a política do Governo PS segue no essencial os desígnios dos partidos da direita e dos grandes grupos económicos, política que sempre acarreta o empobrecimento da generalidade da população. Mas devemos ter presente que quem produz a riqueza é quem trabalha. O povo não se resigna e tem o futuro nas suas mãos.

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