Opinião

Transportes Publicos

Geni e o Zepelim

O acompanhamento da situação anómala que vivemos devido à pandemia, pela comunicação social dominante, trouxe-me à memória a canção Geni e o Zepelim, da Ópera Do Malandro de Chico Buarque.

Para quem não conheça ou não se recorde, aqui fica um breve resumo. Um travesti, Geni, era maltratado pela população, mas surgiu um zepelim cujo comandante estava disposto a destruir a cidade, exceto se lhe fosse propiciada uma noite de sexo com Geni. Todos, a partir das autoridades civis e religiosas suplicaram o seu assentimento, o que aconteceu. Tendo-se retirado o zepelim e passado o perigo, tudo voltou ao que era dantes, isto é, voltaram os maltratos a Geni.

A analogia está na forma como as lutas dos trabalhadores dos transportes são tratadas, ou maltratadas, pela comunicação social quando o tempo é da chamada normalidade e agora, quando a evidência demonstra a sua indispensabilidade para o funcionamento da economia, entram para o grupo dos heróis.

Para que a vida continue, seja para a circulação de pessoas ou mercadorias, lá estão os trabalhadores dos transportes.

Ainda recentemente, no início da crise epidémica, assistimos ao crucificar dos estivadores do porto de Lisboa, acusando-os de falta de senso, escondendo que lhes assistia toda a razão, pois fruto de uma falência fraudulenta, os acordos de trabalho não estavam a ser cumpridos e havia salários em atraso.

A entidade empregadora pertence às empresas que lhe adquirem os serviços de estiva, serviços esses que vêm sendo fornecidos abaixo do custo, donde resultou a sua falência, conforme denunciou publicamente a FECTRANS/CGTP-IN, sem que a dita comunicação social se tenha apercebido.

A solução que o governo encontrou para resolver o problema foi a requisição civil dos estivadores! Estranha forma de combater a corrupção.

Mas agora, embora omitidos na enumeração, estarão englobados no grupo dos heróis que garante que o país funciona em serviços mínimos.

Num momento em que, tal como os trabalhadores de muitos outros setores, com destaque para os do setor da saúde (igualmente mal tratados há não muito tempo) também os do setor de transportes são reconhecidos como essenciais, não faltando reconhecimentos.

Seria bom que não acontecesse como em Geni e o Zepelim, isto é, que passado o perigo não regressássemos à situação dos maus tratos.

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