Há uns dias discutia com amigos a proposta de lei da Eutanásia. Embora este texto não seja sobre a eutanásia, o tema leva-me a uma reflexão sobre algumas questões relacionadas com a morte, mais especificamente o ‘querer morrer’.

Usamos a expressão ‘saúde mental’ mas falamos globalmente de saúde, porque o nosso corpo e a nos- sa mente não vivem em bairros separados. Coabitam e tentam criar um equilíbrio em que o bem-estar seja sempre em maior proporção que o sofrimento. Não há dor prolongada que não afete ambos. A Saúde é um conceito amplo que abrange a complexidade da existência e relaciona o meio ambiente com aspetos físicos, psicológicos, nível de independência, relações sociais e crenças pessoais. E falar de saúde pode incluir falar acerca do que sentem as pessoas cuja existência, num determinado momento, é demasiado dolorosa. Porque não querer viver parece absolutamente contra a natureza humana.

Há muita cautela na divulgação de dados sobre suicídios (OMS – programa de prevenção do suicídio) mas todos os dias saem noticias acerca da cada vez maior incidência de ansiedade e depressão. Sejam estas motivadas por eventos mais ou menos violentos, porque cada pessoa sente de forma individual, subjetiva e que apenas pode ser descrita. Há fenómenos inevitáveis como a perda de pessoas amadas, o envelhecimento, a saída dos filhos de casa, assim como divórcios, desemprego, instabilidade económica e outros tantos que incluem processos de luto, de adaptação e reestruturação da pessoa. E embora alguns fenómenos representem fases naturais da vida, podem derrubar os alicerces emocionais de quem os vive. Ou até sem motivo aparente, devido a psicogenética ou sensibilidade individual.

Nenhuma escola ou literatura nos garante a obtenção de respostas definitivas e seguras para lidar com pessoas que desejam morrer. Ou que pensam desejar morrer. E será uma discussão polémica. Mas o que pretendo dizer é se não estiver ao nosso alcance melhorar a vida destas pessoas então que as olhemos com compaixão e empatia. De outra forma só iremos aumentar o fosso da incompreensão e angústia existencial do outro.

Existem respostas sociais como linhas de apoio e consultas de psiquiatria urgentes para o contexto de suicídio (para saber mais consultar saudemental. min-saude.pt), no entanto, há como em muitas outras áreas de saúde, uma resposta insuficiente para as afeções do foro da mente e das emoções. Em termos de políticas de saúde pública, idealizo a criação de equipas multidisciplinares que, num contexto de cuidados de saúde primários, sirvam as populações, oferecendo uma assistência precoce. Disponibilizar precocemente princípios elementares de educação, terapia, integração e autonomização e que integrem abordagens medicamentosas e não medicamentosas. Numa visão de proximidade e sobretudo respeito pela dignidade da pessoa que sofre, chegando às pessoas bastante antes das suas vidas já serem um calvário.

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