Convidam-se os eventuais leitores destas crónicas a acompanhar o escriba numa espécie de ficção histórica:

Imagine-se que estamos num regime de liberalismo económico total – cada um produz quanto é capaz e vende pelos preços máximos que o mercado consente.

Obviamente vende a quem lhe oferecer mais. Situação que atingirá o exagero exponencial quando se tratar de produzir e vender um bem escasso ou necessário para o maior número. 

Transporte agora o leitor o que acaba de ler para a situação que hoje a humanidade vive:

Uma doença alastra, sem parar, para todo o mundo. Esgotados todos os esforços para a conter, toda a esperança se depositou na descoberta, na produção e na distribuição de uma vacina eficaz, que, dados os investimentos feitos, certamente seria cara e porque inicialmente não havia vacinas para todos, é fácil de adivinhar que seriam os que mais pudessem pagar os primeiros a serem vacinados e que os pobres ficariam para últimos ou morreriam. 

Não foi este triste quadro que sucedeu na Europa e, portanto, entre nós. Felizmente. Soube a UE adiantar-se à descoberta da vacina e participar na investigação e comprometer antecipadamente a indústria farmacêutica a fornecê-la em quantidades convenientes, logo que aprovado o seu uso, garantindo ao mesmo tempo uma distribuição equitativa pelos povos que por sua vez estabeleceriam prioridades de vacinação adequadas às suas realidades.

Estabeleceu Portugal, em parceria com todos os outros países da UE, critérios de prioridade onde nunca se pergunta a ninguém quais são os seus rendimentos, quanto pode ou não pagar, quanto está disposto a pagar ou quanto quer pagar para passar à frente de quaisquer outros. Olhou-se, isso sim, para a idade, para o estado de saúde, para as profissões que deveriam apresentar maior grau de resiliência ou, seletivamente, aqueles cujos cargos são fundamentais para o funcionamento do país. Todos aqueles que quiserem serão vacinados, quando chegar a sua vez, quando chegar o seu SMS ou a sua carta e é por isso que daqui se lança um Bem Haja – à Europa, à nossa Constituição, solidária e igualitária, e ao nosso Serviço Nacional de Saúde. 

Para os que quiserem passar à frente ou buscar furos no instituído, têm a censura e há sanções.

E assim será feito, independentemente de novos condicionantes exigirem novas decisões coletivamente decididas.

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