A Casa e o Mundo é o título de uma obra de Rabindranath Tagore, escritor indiano galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, em 1913, e que, de uma forma abstrata, se poderá considerar como versando a relação que existe entre o que nos é distante ou veio de fora e o conforto e segurança, tanto físicos como intelectuais que nos oferece a nossa casa.

É expressivo, e para isso se chama a atenção, o nú- mero de palavras que na língua portuguesa se iniciam com o prefixo CA: casa, casca, casulo, cabida, caverna, câmara (no sentido de compartimento onde se ouve música recatada e íntima ou acappella) e ainda, entre muitas outras, castelo e cabeça (no sentido de crânio, algo de importante e fechado). Tudo dando a entender ou girando à volta da noção de abrigo, de proteção ou sítio seguro e quando entre nós a palavra FOGO quer dizer o mesmo que CASA ou LAR, o significado de todas elas se funde e inclui a emoção e sentimentos de vida partilhada.

E é por tudo isto que, quando insidioso vírus, mil vezes mais pequeno que um milímetro se espalhou de roldão pelo mundo inteiro, bem avisados andaram cientistas e governantes em organizarem o quotidiano de todos de maneira que só não ficassem em casa aqueles que fossem necessários à saúde, à segurança e ao abastecimento dos outros. Bem hajam estes.

Acharam estranho que os mandassem para casa os velhos que jogavam cartas nas mesas e nos bancos que a Junta de Freguesia colocou há tempos na Alameda Dom Afonso Henriques, em Lisboa. Refilaram e poderiam ter sido acusados de desobediência, eles que tão cordatos sempre foram. Talvez se possa compreender e aceitar a sua atitude se nos deitarmos a adivinhar

como serão as casas dos velhos que jogam as cartas na Alameda Dom Afonso Henriques, em Lisboa ou em qualquer outro jardim público por esse país fora: muitos deles viverão em quartos alugados, outros viverão em casas escuras e húmidas, tudo indica que serão velhas e mal cuidadas e a maioria deles quando lá chegam encontram a solidão como única companheira.

É provável que alguns tenham sido vítimas de um outro vírus, igualmente pernicioso, chegado algum tempo antes deste, escondido nas entrelinhas das leis do alojamento local e dos despejos…

E por tudo isto se deseja que, passados estes conturbados tempos, se mantenha a mesma determinação por parte de todos e, recuperada a saúde, se recupere o trabalho e se promovam políticas públicas que conduzam à resolução do problema do alojamento para o maior número.

Casas cujas rendas sejam compatíveis com os rendimentos de cada família, casas adequadas às necessidades de todos os grupos e sobretudo casas amáveis, onde dê gosto viver…

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