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Escolas

De Conselho em Conselho, numa gestão democrática

O Conselho de Cooperação Educativa assume um papel central na gestão democrática da escola. Todos devem ter uma participação ativa nesta gestão e construção do dia-a-dia da escola. Se queremos ser um verdadeiro coletivo temos de trabalhar cooperativamente em todas as frentes a que a Escola se propõe atuar e criar espaços e momentos onde todos tenham voz e possam participar ativamente nas decisões que nos gerem e nos guiam.

Em cada uma das salas de aula, o Conselho toma as rédeas da organização, regulação e  avaliação do trabalho do grupo. Durante a semana cada um dos grupos tem momentos em que, de modo coletivo, conversam sobre todos os aspetos da vida da turma. Discutem, pensam, refletem em conjunto e tomam decisões que afetarão o dia-a-dia de todos os elementos que pertencem àquele grupo. Não há nada mais poderoso do que a decisão conjunta, pautada por aquilo que é o interesse do grupo.  Assistir a um momento destes, em que vemos um conjunto de crianças e adulto ou adultos, sentados de modo a que todos se consigam olhar e ouvir, é dos momentos mais bonitos para alguém que acredita numa escola democrática, integral e inclusiva, mas fazer parte desse coletivo e ajudar a criar um caminho de consciência política e de tomada de decisão cooperada, é algo emocionante e que nos faz acreditar cada vez mais neste tipo de gestão.

Podemos andar um dia inteiro, n’A Voz do Operário, de sala em sala, da creche ao 2.º ciclo e entrar e sair de círculos de miúdas e miúdos, unidos pelo mesmo modo de ver o poder, um poder partilhado e gerido por todos.

Se acreditamos que a escola deve garantir o desenvolvimento de todos, nas diversas dimensões que compõem a vida, só o conseguiremos em pleno quando partilhado e acompanhado, colocando na balança, nas mesmas proporções, a dimensão intelectual, física, social, emocional e cultural.

Cada percurso individual deve ser respeitado e acompanhado de modo a que todos nós consigamos caminhar, de facto, juntos, para atingir todos os objetivos a que se propõe o momento do Conselho. Quando me refiro a todos, refiro-me a todos os que compõem os diversos conselhos, crianças e adultos. Partimos dos pressupostos que conhecemos, mas  temos de fazer o nosso desenvolvimento pessoal, para que em cada um dos papéis que desempenhamos, nestes momentos, saibamos como fazer parte do coletivo. Por exemplo, gerir o grupo se formos presidentes, registar todas as decisões tomadas, se formos secretários, ajudar a olhar e a pensar de modo crítico para cada assunto levantado, se formos um membro do conselho (de que modo a questão levantada terá um impacto no grupo? Como posso dar o meu contributo para melhorar o estar do grupo?). E se ainda acumularmos uma destas funções com sermos um dos adultos de referência, teremos de ajudar a criar momentos que nos façam crescer enquanto grupo, ajudar a dar sentido a este momento e a mostrar com o nosso exemplo, como membro de um conselho, a verdadeira importância das discussões e decisões tomadas. Muitas vezes caberá ao adulto relembrar, ao longo da semana, a importância das decisões, assim como remeter para o Conselho algo que surja como necessidade do grupo e carecer de decisão, ao invés de decidir por um caminho mais fácil, mas individual.  

Se olharmos como um observador externo para o modo como vamos gerindo o nosso trabalho, conseguimos ver bem o poder que tem este termo Conselho, por vezes, tão comum para nós que nos esquecemos de falar sobre a sua importância.

Ora vejamos o caminho desta palavra e qual a sua força. Os vários diretores pedagógicos reúnem-se num Conselho, chamado Conselho de Escolas, onde pensamos, regulamos,  articulamos, coordenamos e decidimos em conjunto.  Saindo deste Conselho, cada um dos representantes das escolas reune num segundo Conselho, chamado Conselho Pedagógico, onde todos os coordenadores das valências, de creche, pré-escolar, 1.º ciclo  e 2.º ciclo, serviço de psicologia e equipa multidisciplinar para a inclusão, volta a pensar, regular e articular com base nas decisões já tomadas, podendo e devendo decidir de um modo mais micro, para cada uma das valências, mais uma vez com a palavra de todos.

Deste momento seguimos para um novo Conselho de Professores ou Educadores, onde reunimos todos os professores ou educadores de cada uma das valências, para mais uma vez, de um modo cada vez mais micro e prático, refletirmos, regularmos, articularmos e  implementarmos as decisões tomadas e aprovadas.

Neste sentido do macro para o micro chegamos a um Conselho, denominado por Conselho de Representantes (1.º e 2.º ciclos) onde está um aluno de cada turma, escolhido por cada turma, de modo rotativo, um elemento do corpo docente e um representante dos auxiliares de acção educativa e ATL, onde discutimos, pensamos, articulamos e devolvemos às turmas as decisões que se prendem com espaços e momentos comuns.

Por último, o Conselho pelo qual começamos este texto, o Conselho de cada grupo/turma.

Este caminho tem dois sentidos, do micro (terreno) onde tantas vezes surgem as questões para o macro, para que possamos aí, analisar, pensar, articular com o que é o nosso Projeto Educativo, de modo a devolver ao micro aquilo que nos parece ser a continuação do trilho a fazer e neste perpétuo movimento, vamos avançando de modo a cumprirmos aquilo a que nos propomos enquanto escola democrática.

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