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Pensar e sentir em comunidade

De um dia para o outro passámos a fazer tudo através de um ecrã: trabalhamos, temos aulas, fazemos compras, conversamos com a família e os amigos, assistimos a concertos, tudo online. Chega a ser irónico pensar que, há dois meses, acompanhava um projeto de uns alunos do 4ºA sobre o uso excessivo de ecrãs e do prejuízo destes para a nossa saúde e, de um dia para o outro, esse trabalho, para ser concluído, passa a ser também ele através de um ecrã.

Reinventámo-nos tentando não esquecer os princípios que nos norteiam e que têm uma razão de ser.

Pela internet, a janela do nosso confinamento, fomos invadidos por uma onda gigante de manuais, cursos online, podcasts sobre como viver a quarentena como se fossemos incapazes de tomar conta de nós, das nossas vidas, dos nossos filhos. Foi difícil não cair nesta tentação de enviar atividades para lidar com as emoções, dicas sobre rotinas, quando o mundo nos pedia, numa lógica transmissiva e sem comunicação possível, completamente contrária ao que acreditamos, que o fizéssemos. Não o fizémos. A nossa preocupação foi e será sempre a de manter uma comunidade unida, reforçar um coletivo que se suporta e se constrói em conjunto, mesmo na adversidade. Mas como o fazer?

Continuar a estar… como sempre. 

Apoiar não é transportar ao colo mas, confiando que todos somos capazes de buscar soluções para as nossas dificuldades, acreditamos que, em conjunto, conseguimos melhor. Confiar que todos somos capazes não significa desamparar nem perder os laços já criados.

Acreditamos em criar condições, às vezes invisíveis a olho nu, para que a comunidade se (re)construa melhor. Disponibilizar. Dizer que estamos cá, na hora que precisarem, disponíveis para todas as famílias, disponibilizando contactos, desde o início do confinamento, e reforçando-o ao longo deste período, para que quem quisesse pudesse procurar-nos.
Estar presente. junto dos educadores e professores para que também estes fizessem a ponte quando achassem necessário e nos chegassem as suas preocupações e necessidades. Respeitar. Mantendo o mesmo cuidado e respeito pelo tempo e necessidades de cada criança, de cada família, de cada membro da nossa comunidade. Empoderar. Promovendo momentos de reflexão entre famílias construindo em conjunto o conhecimento, procurando estratégias, fortalecendo o saber de todos. Pertencer. Desenvolver o sentimento de pertença a uma comunidade onde, como em qualquer comunidade, eu cuido e sou cuidado.

No entanto, inquietou-nos: se somos um coletivo como fazer para não nos findarmos na resposta individual? 

Se na nossa escola presencial, onde permanentemente derrubamos muros e portas, a partilha é facilitada pela liberdade e autonomia de entrar numa sala e lançar uma proposta no diário, em tempos em que a nossa saúde mental se fragiliza era premente que esta partilha passasse dos ecrãs individuais e chegasse a um ecrã coletivo. Fazia falta um espaço onde pudéssemos reunir produtos culturais, reflexões e produção de conhecimento, centrado na promoção do desenvolvimento, no bem-estar e da saúde mental. Fazia falta um espaço nosso, comunitário. Surgiu, então, a ideia de criarmos um acervo vivo, disponível para toda a comunidade, para que em conjunto possamos partilhar, aceder e construir conhecimento.

Nasceu assim, durante a quarentena mas com o objetivo de se manter e crescer, o site Pensar e Sentir em Comunidade*, um projeto do Gabinete de Psicologia do Espaço Educativo da Graça que pretende partilhar com toda a comunidade como cuidamos, em comunidade, da nossa saúde mental. Afinal, nós somos o coletivo.

Pode consultar Pensar e Sentir em Comunidade através do Link: https://sites.google.com/vozoperario.pt/pensaresentiremcomunidade

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