Dizia há dias um velho, tido por sábio e ponderado entre todos os outros que se reúnem no jardim do meu bairro: … já passei dos 90 anos e vejam lá as guerras de que ouvi falar ou que vivi.

Começou com a guerra da Abissínia, depois a de Espanha, mal acabou esta logo começou a 2ª Guerra Mundial… os “refugiados” e os “expedicionários” que iam para as ilhas do Atlântico… foram lá parar dois primos meus, mais velhos que eu… e os Japoneses e Timor… depois a Guerra Fria e a Guerra da Coreia que começou no dia em que fui à inspeção militar, tinha eu 19 anos… a da Indochina e de Dien Bien Phu e a do Vietname e a da Argélia e a invasão de Goa pela União Indiana e o drama de todos aqueles a quem Salazar ordenou que lá morressem e o opróbrio que foi lançado sobre aqueles que não lhe obedeceram… depois, para nós tão dolorosa, a Guerra Colonial e a angústia de tantos pais que viam crescer os filhos a caminho de lá irem parar.

Vi partir muitos jovens e vi chegar muitos caixões às estações marítimas, disse com profunda tristeza o velho senhor e acrescentou, depois de um silêncio…fora aqueles que vieram estropiados ou dementes, meios vivos e que vieram cá morrer.

Todos os presentes se quedaram pensativos e ele prosseguiu: agora já não há minuto nenhum da nossa vida em que não haja gente a matar gente em qualquer parte do mundo. São guerras localizadas que ressoam e têm consequências por todo o mundo, no Kosovo, na Líbia, na Palestina, na Síria, no Afeganistão e espalhadas pelo terrorismo em Nova Iorque, em Madrid ou Nice e em muitos outros sítios e isto sem falar dos conflitos larvares, os que matam sem fumo, nem estrondos, como aquele que sofre há tanto tempo o povo Saarauís.

Reparem bem, continuou o velho, no que a História nos ensinou, com tanta vida destroçada e tanta casa destruída, nos tempos que cabem na nossa memória: nunca duas democracias, duas verdadeiras democracias, lutaram entre si e provocaram guerras. Aliaram-se, sim, contra Impérios de monarquias desavindas, contra “eixos” e contra terrorismos; nunca houve uma guerra que não terminasse, houve sempre um armistício, uma convenção, um acordo que lhe pusesse fim, muitas vezes os agressores levaram menos tempo a curar-se das suas feridas que os agredidos e já sucedeu a razão estar do lado de quem formalmente declarou a guerra, mas a infâmia esteve sempre do lado de quem atacou de surpresa…

Concluiu depois com um suspiro: é triste que haja gente que se compraz com a guerra e há mesmo aqueles que com ela ganham benesses e dinheiro…

Foi então que um outro velho, até então calado, disse: … está tudo doido, o maniqueísmo deu cabo de todas as relações, só há muito bons ou muito maus…parece que só o Bom Papa Francisco se mantém lúcido pois, sem atribuir culpas, nem curar de saber quem “atirou a primeira pedra”, procura cristãmente que haja Paz na Terra entre os Homens de Boa Vontade.

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