É.
Se para tanto houver vontade política, convergência de esforços e se forem eliminados parasitas.
Na verdade, as casas são objetos caros porque o seu custo é uma soma de parcelas, umas de ordem construtiva, outras de ordem financeira, umas são compressíveis, outras não e há as que se podem eliminar.
A primeira parcela diz respeito ao preço do terreno e aí anda o mercado à solta, mas convém lembrar que os municípios são detentores de instrumentos de intervenção nesse campo pois, através das características numéricas determinadas nos seus instrumentos de planeamento (densidades, índices de ocupação e de construção, cérceas, proteção de vistas e muitas outras), podem condicionar o valor das transações.
(um experiente “pato bravo” de Lisboa dizia que “um terreno vale o que se pode pôr em cima” e, infelizmente, são ainda raros os autarcas que resistem à miragem de ver os seus concelhos cheios de altos prédios chegados uns aos outros ou sonham “colmatar os vazios urbanos e compactar” as suas cidades).
A segunda parcela diz respeito aos custos da construção e aí convém anotar que uma casa é um artefacto caro pois se qualquer outro bem pode ser produzido num lugar e usado ou consumido noutro, um prédio tem fundações, no verdadeiro sentido da palavra, e fica preso a um sítio para onde, durante a sua construção, convergem milhares, se não milhões, de peças que aí reunidas são e formam um todo estruturado, isto é, em que cada uma dessas peças tem uma relação coerente com todas as outras
uma esclarecedora demonstração:
a montagem de uma simples janela implica a assemblagem de mais de 100 peças – aros, folhas, dobradiças, fiéis das dobradiças, parafusos, lâminas dos estores, vidros, bites, caixa de estores, cremones, puxadores, fitas dos estores, molas…e tudo isto exige trabalho in situ, em condições que exigem esforço, saber e segurança.
não é de estranhar, pois, que se estime em cerca de 30% o valor da mão de obra incorporada na construção de uma casa
percentagem que, face à louvável e crescente valorização do trabalho, dificilmente será compressível.
Acrescente-se que as tentativas de redução do custo da construção através da industrialização pesada, da pré-fabricação, da maior racionalidade no projeto e nos métodos ou no controlo dos desperdícios, do uso de novos materiais, muito embora tenham contribuído para a resolução do problema não alcançaram ainda relevância significativa.
Finalmente, os custos financeiros e o parasitismo:
diz quem sabe que, quando ao fim de 30 anos a pagar um empréstimo, quando já podem dizer que a casa é sua, um casal, ao contrário do conhecido anúncio, ficou com uma e pagou três, tais foram as alcavalas que teve de satisfazer, chamassem-se elas taxas, juros, impostos, seguros, avaliações, comissões, licenças e tudo o mais que entidades públicas ou privadas fazem depositar, com assustadora frequência, na caixa do correio dos desgraçados.
Aí sim talvez haja lugar a uma real compressão de custos e aí, sem dúvida, a banca estatal deverá ter papel decisivo.