As eleições autárquicas que se realizaram a 26 de setembro traduziram-se num aumento da abstenção. Para além de analisar os efeitos da redução da participação no ato eleitoral, importa entender o que leva a que uma importante parte dos eleitores opte por ficar em casa. Décadas de políticas de direita, cimentadas numa cultura de individualismo, apatia e conformismo, conduziram a um alheamento daquilo que é a política e do que é ser político. São recorrentes os discursos equívocos para tentar mostrar que são todos iguais para que nada mude. Não é verdade. Há mulheres e homens comprometidos com a igualdade, a justiça social e o progresso. Gente que faz política não para se servir mas para servir as populações. Geralmente, a bipolarização mediática das campanhas eleitorais ou a promoção de outsiders, novidades que nada trazem de novo senão uma roupagem diferente sobre as velhas políticas, tenta silenciar a alternativa.

Há 142 anos, no dia 11 de outubro, um grupo de operários tabaqueiros decidiu fundar um jornal que desse voz aos seus anseios e aspirações. Silenciados pelos principais órgãos de comunicação social da época, muitos entenderam a necessidade, mesmo sem saber ler nem escrever, de ter um meio que projetasse para lá do cerco mediático as lutas dos trabalhadores e das populações. Aqui estamos, quase século e meio depois, apostados em seguir o mesmo caminho.

Neste número damos voz a pais de antigos alunos d’A Voz, ao modelo que adotámos, damos voz aos pescadores, à luta por uma alternativa ao Aeroporto de Lisboa, analisamos o elevado custo da eletricidade, ao papel de Paulo Freire na pedagogia, à vitória da operária Cristina Tavares nos tribunais e ao aniversário do nosso jornal. É este o nosso desígnio, ir aonde outros não vão, falar daquilo que outros calam.

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