Editorial

Resistir ao passado para conquistar o futuro

A homenagem d’A Voz do Operário à resistente antifascista Conceição Matos é um ato de inteira justeza. Milhares de mulheres e homens dedicaram os melhores dias das suas vidas à luta contra o regime fascista. Muitos foram perseguidos, presos e torturados. O levantamento militar e a revolução que o acompanhou foram o corolário de enormes sacríficios para todos eles e não foram poucos os que não chegaram a ver sequer os frutos da luta que semearam durante 48 anos de barbárie. Podiam muito bem ter optado por ficar no recato do lar e ter sucumbido à miséria e à pobreza no silêncio. As mulheres e os homens que nunca puderam ser crianças e que cresceram a trabalhar no campo ou nas fábricas, sob o signo do analfabetismo, por meia dúzia de tostões, podem ver, de forma escancarada nas televisões, a reabilitação do fascismo.

Os sucedâneos do salazarismo nunca se foram embora. Estiveram escondidos, à espera de um contexto propício para voltarem a propagar a ideologia que afogou o país na mais bruta das misérias. Querem fazer-nos crer que as desigualdades sociais dos nossos dias se resolvem com piscares de olho a um passado em que os grandes grupos económicos e financeiros tinham rédea solta. Mas muitos dos que hoje estão à frente das principais empresas e bancos vêm precisamente dessas famílias e são eles que desde 25 de Novembro de 1975 procuram vingar os avanços progressistas da revolução de Abril.

Ao longo de várias décadas assistimos a um ataque cerrado aos direitos laborais, entre outros, argumentando que a nossa arquitetura legal, que regula o trabalho, é demasiado rígida. O facto é que a cada machadada no código do trabalho o país continua a afastar-se dos restantes países europeus e os trabalhadores cada vez mais pobres. Para os que alegam que só é pobre quem quer, os números estão aí para mostrar o contrário. Em Portugal, são quase 60% os adultos pobres que trabalham. Se o caminho para sair desta encruzilhada não é o dos partidos que têm governado Portugal nas últimas décadas, muito menos será o daqueles que apostam em dar oxigénio à extrema-direita. O inimigo de todos eles é Abril e essa alvorada de conquistas sociais que põe em cheque o poder deles de se fazerm ricos à custa do nosso trabalho.

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