Editorial

Público é de todos, privado é só de alguns

A grave situação de crise sanitária que vive o país mostra, mais do que nunca, a importância do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Sem o empenho de milhares de profissionais nas diferentes frentes desta batalha, o cenário seria incomparavelmente pior. Foi em 1979 que o país viu o nascimento do SNS, conquista da luta dos trabalhadores, das populações e da revolução de Abril, apesar dos votos contrários do PSD e do CDS, incluindo do reeleito Presidente da República.

Ao longo de décadas, os sucessivos governos, também os do PS, trataram de enfrentar o direito constitucional a cuidados de saúde, abrindo as portas aos privados. Hoje, está à vista a importância dos serviços públicos. A falta de investimento e de profissionais de saúde conduziu à degradação do SNS, como nunca deixaram de alertar sindicatos e partidos à esquerda do PS.

Mas os que todos os dias dão o seu melhor para salvar vidas fazem-no apesar da indiferença dos inimigos do SNS. São verdadeiros heróis, quando outros se dedicam a usar a pandemia como negócio. É o caso das farmacêuticas que não têm pejo em produzir e distribuir vacinas consoante o comprador. E é o caso dos países da União Europeia e dos Estados Unidos, entre outros, que não querem suspender as patentes das vacinas para facilitar o acesso de países mais pobres a esta importante arma contra a covid-19.

Foi neste cenário que em Portugal se realizaram eleições presidenciais que deram a vitória a Marcelo Rebelo de Sousa, para um segundo mandato. Com uma esperada elevada abstenção, os resultados ficaram marcados por muito do que televisões, rádios e jornais ofereceram aos eleitores durante uma campanha fortemente condicionada: uma passadeira vermelha estendida a um candidato de extrema-direita. É um sinal negativo e profundamente anti-democrático que se tente polarizar a política em torno de uma figura que representa os interesses radicalizados dos grandes grupos económicos e financeiros. Ou seja, a brutalização do capitalismo.

Mas este mês A Voz do Operário faz 138 anos e esse não é um elemento de menor importância, pois demonstra que é a força coletiva dos trabalhadores que faz avançar a resistência. Porque fomos, somos. Porque somos, seremos.

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