Editorial

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Virar o nosso futuro à esquerda

Começa um novo ano e, inevitavelmente, sonhamos com uma vida melhor, fazemos planos e projetamos futuros. Depois de dois anos de pandemia em que tudo é mais cinzento, parecem certeiras as palavras de Antonio Gramsci de que só será um ano diferente se fizermos dele um ano diferente. Naturalmente, o comunista italiano referia-se à aspiração coletiva de um mundo melhor. Cabe-nos lutar por isso. Como afirmou o irlandês James Connolly, “as nossas reivindicações mais moderadas são que só queremos o mundo”. Querer viver num planeta sem desigualdades, guerras e com justiça social é mais do que uma mera aspiração. São princípios que guiam este jornal desde 1879.

A menos de um mês das eleições legislativas, temos a oportunidade para refletir de que forma é que as nossas escolhas políticas nos podem aproximar mais desses objetivos. António Costa parece apostado numa estratégia de vitimização para fazer crer que o governo PS caiu devido ao chumbo do orçamento. Foi a intransigência e a inflexibilidade nas negociações, sabendo que governava em minoria, que conduziu a esse desfecho. O facto é que, ao contrário do que o PS e Marcelo Rebelo Sousa quiseram, quando um orçamento é chumbado, o executivo pode apresentar uma nova proposta. Por diferentes motivos, tanto Marcelo como Costa quiseram eleições. Este último já pede maioria absoluta apesar de ter dito na última ida às urnas que as maiorias absolutas são perigosas. 

Vamos aos factos. Foi a luta dos trabalhadores e da população que derrotou o governo de Passos Coelho. A inércia do PS durante o período da troika foi tal que não conseguiu sequer ficar à frente da coligação governamental de então. Foi, após o mote do PCP na noite eleitoral, que Passos Coelho e Paulo Portas acabaram por não conseguir formar governo, abrindo-se caminho a um executivo do PS condicionado pelos partidos à sua esquerda.

Sejamos claros, sem estar condicionado pelos partidos à sua esquerda, pelo histórico dos governos PS, sabemos o que teria acontecido se Costa tivesse governado com maioria nos últimos seis anos. Na maioria das vezes, os deputados do PS votaram ao lado dos partidos à sua direita como o PSD, o CDS ou a IL. Os avanços que aconteceram nas duas legislaturas só aconteceram porque o PS teve de ceder aos partidos à sua esquerda.

A pergunta que devemos fazer é: queremos que os bolsos vazios de muitos continuem a encher os cofres de uns poucos? Queremos que o futuro dos nossos filhos seja a precariedade laboral? Queremos que os bancos sejam mais importantes do que os nossos serviços públicos? Porque as nossas vidas contam, a resposta de cada um de nós deve ser dada nas urnas e nas ruas.

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