O rio de gente que desaguou na Avenida da Liberdade a 25 de abril e no 1.º de Maio para celebrar a revolução e a luta dos trabalhadores não é menosprezável. Sem lugar nos inúmeros programas de televisão e nas colunas de opinião dos jornais, esta é a nossa gente. São trabalhadores, estudantes, mulheres, jovens, reformados e moradores dos subúrbios. São gente sem a qual o país não se move mas que não cabe nos alinhamentos dos telejornais senão quando se lhes aponta o dedo quando se queixam demasiado.

Onde há 47 anos se escreveram as páginas mais bonitas da nossa história, vive um país fétido entre quem governa para os grandes grupos económicos e financeiros e entre os grandes grupos económicos e financeiros que financiam a extrema-direita para que nos governe. É extraordinário perceber que em 47 anos sem ditadura fascista apenas houve um primeiro-ministro que esteve ao lado dos pais e avós desta juventude que cada vez mais sai às ruas para exigir direitos e para denunciar a fascização da direita. Vasco Gonçalves ouvia os trabalhadores, convivia com eles, era produto da luta coletiva que fazia avançar o processo revolucionário. 

Muitos destes jovens são hoje forçados a abandonar o país para procurar trabalho no estrangeiro. Em Portugal, o caso dos bolseiros de investigação são um exemplo paradigmático da falta de respeito dos sucessivos governos pelo trabalho científico. Mas é uma desvalorização que se estende a todos os setores com o objetivo de precarizar o trabalho e a vida. A receita para esta dor de cabeça é o caminho que gerações e gerações seguiram. Mas basta de analgésicos. Não queremos mais mas também não queremos menos do que aquilo a que temos direito.

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