As Actividades Extra Curriculares (AEC’s), denominadas n’A Voz do Operário de Actividades Associativas, tentam representar nos dias de hoje mais uma face da diversidade educativa que ao longo do dia preenche cada contexto educativo. A realidade, contudo, apresenta um conjunto de limitações às quais devemos estar não só atentos mas proactivos, no sentido de promover as necessárias alterações que conduzam a uma mudança na forma como estas são perspectivadas, surgem em cada escola, se organizam em função dos seus objectivos e se materializam na vida das diferentes comunidades educativas.
Nas escolas d’A Voz do Operário defendemos que toda e qualquer interacção entre crianças e adultos comporta, de forma intrínseca, uma natureza educativa. Desta forma, nenhuma actividade que envolva qualquer criança ou grupo de crianças pode estar à margem desta lógica. Assim, toda e qualquer actividade deve estar alinhada com o Projecto Educativo da instituição e ser conceptualizada de forma coerente com os princípios por nós preconizados. Dito isto, devemos analisar as actividades associativas ou AEC’s sob uma dupla perspectiva: qual o papel que devem exercer no seio de uma comunidade educativa e como se organizam ou devem organizar, de forma a responderem aos objectivos a que se deverão propor.
Eventualmente, a forma mais fácil de começarmos a discutir qual o papel de uma AEC poderá ser começando por perceber o que esta não pode ser. No actual sistema educativo, não raras vezes, o primeiro passo para pensar uma AEC é o de como preencher um determinado período de tempo da criança, já depois de terminadas as aulas, de forma a permitir que a sua família se mantenha a trabalhar. A criança precisa ser “entretida” com actividades pensadas, definidas, decididas e geridas por adultos, para que possa conseguir suportar da melhor forma possível o tempo que a separa da sua família. Quando assim é, os custos de qualquer actividade serão quase sempre superiores aos seus benefícios. Não obstante o esforço que a maioria destes adultos investe na estruturação destes momentos, ele não deixa de estar sediado numa lógica que, mais uma vez, deixa o “superior interesse da criança” no fim das prioridades definidas.
Um dos primeiros problemas, senão o primeiro é, desde logo, semântico. Uma actividade “extra” curricular pressupõe uma actividade que acontece para além do currículo. É qualquer coisa que sobra de um dia que, importa não esquecer, já vai longo e nem sempre produtivo. Ora, uma actividade que de facto se pretende valiosa para o desenvolvimento de qualquer criança, mas que acontece depois do período escolar, deixa, inevitavelmente, a descoberto os problemas intrínsecos ao próprio currículo. Porque este deve ser, por princípio, o maior e mais pensado barómetro de um desenvolvimento amplo, saudável e transversal. Assim sendo, pouco ou nada devia sobrar, se tudo o que de significativo para a vida dos miúdos lá pudesse estar. Então, porque o currículo, quando não gerido colectivamente, é uma mera lista de metas a atingir, fica para depois desta corrida o tempo para as actividades que alguém decide sobrarem.
O papel das AEC’s não pode por isso ser pensado numa lógica de algo que pouco importa ou que só importa no tempo e no espaço em que acontece. Estes momentos, todos os momentos, têm de contribuir para o desenvolvimento de cada criança e por isso serem pensados, definidos, geridos e avaliados também com as crianças em causa.
A organização de uma AEC deverá portanto obedecer a um conjunto de princípios que promova, para a vida de quem dela usufrui, a mais-valia permanente que a escola deve representar. Se, como já vimos, qualquer actividade deve ser pensada e projectada com a participação estrutural de quem dela usufrui, o resultado desse trabalho deverá apontar para uma actividade que tenha subjacente um tempo e um espaço de relação entre as crianças. Diversos estudos demonstram que estas actividades podem desempenhar um papel significativo na melhoria das ligações que se estabelecem entre crianças, promovendo o desenvolvimento de uma maior capacidade de socialização e aceitação pelos pares. Assim, o papel destes momentos é de fortalecer e enriquecer o desenvolvimento da criança enquanto pessoa, mais do que um complemento do currículo.
Na nossa instituição é ainda difícil conseguir estabelecer as pontes necessárias para que os adultos responsáveis por estes momentos conheçam e se apropriem quer do Projecto Educativo d’A Voz do Operário, quer dos princípios e valores de toda a instituição. Ainda assim, um envolvimento próximo destes adultos para com a vida da instituição, através de uma ligação que não apenas momentânea, é um passo fundamental no sentido desejado. A participação destes adultos em momentos-chave da instituição e o seu envolvimento na vida associativa d’A Voz do Operário são alguns exemplos de uma aproximação importante para a criação de um vínculo e um compromisso mais profundos. Da parte d’A Voz do Operário, a criação de condições de facilitação desta aproximação é igualmente imperiosa. Esta deve ser também pensada para que, uma vez criadas as condições para que as Actividades Associativas sejam mais uma expressão da tarefa colectiva a que nos propomos, estejam acessíveis a todas as crianças das nossas escolas sem a condicionante de um valor financeiro acrescido, ao qual nem todas as famílias estarão em condições de conseguir responder. Estatisticamente são precisamente as crianças de maior fragilidade económica e social que mais beneficiam destas actividades.
As Actividades Associativas deverão ser a continuação da concretização de um caminho que é desenhado em função do cumprimento do papel mais nobre e sério que pode ser dado a qualquer adulto: o de participar, consciente e activamente, na Educação dos que garantirão o futuro de qualquer comunidade. A nós, Voz do Operário, continuará a caber-nos a tarefa de nos mantermos na vanguarda desse caminho.