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Apoio social

A Voz do Operário rompe o isolamento dos mais idosos

Se Lisboa é hoje uma cidade silenciosa e vazia de gente que enfrenta o isolamento nas suas casas, todas as manhãs, exceto ao fim-de-semana, uma equipa de funcionárias d’A Voz do Operário desafia a pandemia provocada pelo novo coronavírus.

Trabalhadores do serviço de Apoio Domiciliário d'A Voz do Operário

Protegidas com máscaras, luvas e desinfetante, garantem que não falte higiene e alimentação a nenhum idoso inscrito no serviço de apoio domiciliário. Manuela, Mariana e Vanderleia deslocam-se à casa de cerca de 40 utentes diariamente com comida nos braços e solidariedade no coração.

Mariana Costa descreve as regras mais apertadas de segurança que cumprem com todo o zelo para evitar a infeção de utentes e trabalhadores. “Quando chegamos à A Voz do Operário, despimos a nossa roupa e vestimos a de trabalho”, explica. “Vamos com máscaras, luvas e desinfetante e andamos sempre de carro para evitarmos contactar com mais gente seja na rua, seja nos transportes públicos”, sublinha. Mariana refere que reforçaram as medidas de higiene e segurança mas que sempre houve essa preocupação. Mesmo antes da pandemia. “Nós andamos de casa em casa e não queremos contaminar ninguém. Quando acabamos um serviço, tiramos as luvas, lavamos as mãos e desinfetamo-nos”.

De manhã, estas trabalhadores fazem a higiene dos utentes e à hora da refeição deixam o almoço, explica Vanderleia: “Damos o banho na casa-de -banho ou na cama e, depois o almoço”. Para além deste apoio, ainda prestam auxílio na toma de medicamentos e garantem a higienização das roupas pessoais e domésticas. Com as novas circunstâncias a imporem mudanças, antecipa que a partir de agora as refeição vão passar a ser distribuídas em materiais descartáveis e ficam à porta sem haver contacto directo com aqueles utentes que não precisam de higiene. Mas se a visita diária das funcionárias d’A Voz do Operário rompe em parte com o peso ainda maior do isolamento a que estão submetidos os idosos, são muitos os que fazendo parte das atividades diárias do Centro de Convívio manifestam a falta dos seus companheiros, confessa Vanderleia.

As duas trabalhadores destacam que “é indispensável estar ao lado destas pessoas neste momento” como refere Mariana. “A maioria não tem família e somos as únicas pessoas que vêem durante o dia e naturalmente estão preocupados e querem que isto passe rápido. É mais duro para os que saíam à rua e que são mais afetados por esta mudança”, acrescenta. Mariana diz que são estas pessoas que dão forças para continuar o trabalho e para ajudar quem mais precisa.

Por outro lado, sublinha Rita Governo, diretora do Departamento de Ação Social d’A Voz do Operário, há cerca de 30 outros utentes que recorrem diariamente ao refeitório da instituição “com medidas de segurança reforçadas para evitar a circulação e cruzamento com outras pessoas dentro do espaço”. Neste sentido, as trabalhadoras do refeitório continuam a cozinhar para que tanto os utentes do apoio domiciliário como estas pessoas e funcionários d’A Voz que se mantêm no espaço possam comer. É um esforço coletivo que traz ainda mais desafios quando as pessoas “se encontram numa situação de vulnerabilidade maior”. Frente a este desafio diário, Rita Governo, refere as dificuldades que muitas instituições, incluindo A Voz do Operário, estão a ter para manter os stocks de equipamentos de proteção individual como máscaras e luvas. “Temos tomado todas as medidas para minimizar os riscos e perdese algum contacto social mas é um mal necessário”, adverte. “Num contextos de desafios acrescidos como este, a força coletiva tem de emergir mais do que nunca”.

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