Opinião

Mobilidade

Os insultos e o grande insulto

É com frequência que ouvimos nas televisões e lemos nos jornais rasgados elogios aos trabalhadores dos serviços classificados de essenciais, pelo seu mérito no combate à epidemia da Covid-19. Porém, tudo fica pelas palavras, não tendo qualquer repercussão na forma como eles são tratados nas suas condições laborais, a começar pelos salários.

Entre os grupos de trabalhadores que não cessaram a sua atividade nos locais habituais contam-se os do setor de transportes, porque não há teletrabalho para a condução dos veículos nem para a sua manutenção e sem eles não é possível garantir o funcionamento da economia, mesmo que debilitada.

Para termos noção dos riscos que correm, lembremos que já este ano na linha amarela do Metropolitano de Lisboa houve 27 maquinistas infetados, no total dos 70 afetos aquele serviço. Eram 38,57% mas, apesar das dificuldades, os outros continuaram a trabalhar.

Em contrapartida, também conhecemos o desprezo que existe pelo seu trabalho, de que deixamos alguns exemplos.

Na IP (Infraestruturas de Portugal, fusão das infraestruturas ferroviárias com as estradas), a administração, tendo assinado um acordo coletivo para as empresas do grupo, publicado no Boletim de Trabalho e Emprego, onde consta o aumento salarial a partir de janeiro de 2020, não o cumpriu.

Na Carris, a proposta da Administração fez uma contraproposta de aumento salarial para 2021 de 10€ por mês, o que corresponde a 33 cêntimos por dia.

No Metropolitano de Lisboa, o pretexto apresentado para o aumento zero em 2021 foi a quebra de receitas.

Na CP, a proposta é igualmente aumento zero em 2021.

A compensação pelo mérito é uma autêntica “bazucada” nas condições de vida dos trabalhadores deste setor.

O comportamento do governo e da Câmara de Lisboa no caso da Carris, são o que consideramos um insulto que não deve ser ignorado. Porém, há quem o supere. A empresa ferroviária de transportes de mercadorias MEDWAY não se ficou pela miserável proposta de 33 cêntimos por dia. Enviou para casa dos trabalhadores uma carta dirigida aos seus filhos, com elogios aos pais, considerando-os uns heróis.

Eis o grande insulto que não necessita de comentários.

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