… e depois do adeus foi canção que, cantada na madrugada de um dia vinte e cinco de Abril, marcou o início de uma nova época nas nossas vidas.

Será que no próximo Abril, quando o vírus já for (assim se espera) uma má recordação, se poderá dizer que vamos entrar numa nova época? a época pós-vírus? e como será ela?

Podemos lançar-nos a adivinhar e se pedirmos ajuda à História poderemos formular alternativas e imaginar cenários: é bem provável que, por termos estado, vai para quase um ano, com liberdades condicionadas, comportamentos vigiados e relações pessoais, familiares e sociais restringidas, se assista a uma explosão de vida, tal como já sucedeu após outras desgraças e surja um período de “anos loucos”.

E então talvez os costumes se alterem, o endividamento das pessoas, das famílias, e das empresas aumentará, os bancos irão ensacar mais milhões e é quase certo que o consumismo tornará mais fundo o fosso que já há entre pobres e ricos…

Também poderá ser que a austeridade forçada a que fomos sujeitos nos tenha ensinado a sermos parcos, a melhor aproveitar os recursos materiais e intelectuais postos à nossa disposição no campo da transmissão do conhecimento ou das formas de prestações de serviços. E até é provável que surjam outras formas de manifestação artística nos campos da multimédia.

Duas coisas são certas e podemos dá-las como adquiridas – a Humanidade avançou em termos de investigação e desenvolvimento, seja na descoberta da vacina, seja nos critérios e processos de distribuição, e o nosso Serviço Nacional de Saúde, amplo e solidário, cumpriu.

Bem hajam os que para tal contribuíram.

Um outro problema ficará como está e ousa-me dizer é possível que piore – o da habitação para o maior número.

É fácil constatar que a especulação (reter e esperar que os preços subam) é vírus maligno, bicho de sete folgos. Conseguiu aguentar-se, foi diminuto o número de reconvertidos que admitiram colocar no mercado corrente os AL que exploravam e os que o fizeram foi a preços proibitivos para a maioria da população.

O mercado imobiliário está vivo e ativo no mundo dos que têm fortuna – bem o demonstram as oito páginas diárias de um jornal de grande circulação repletas de publicidade, de compras e vendas e de entusiásticos artigos sobre a “a dinâmica do setor”.

No entanto, é dado como certo que o problema do alojamento para o maior número só se encaminhará para uma resolução com a intervenção direta do Estado, regulamentando, tabelando e sobretudo construindo, com determinação semelhante à que teve para combater o vírus.

Porque, sem a agressividade de uma doença, mas na medida que afeta o quotidiano de todos os nós, talvez o caso não seja para menos.

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