Raquel Duarte, professora de Educação Física na escola “A Voz do Operário”, foi convidada pelo CNAPEF (Conselho Nacional de Associações de Profissionais de Educação Física e desporto) a participar como preletora numa ação formação e partilhar a sua experiência profissional e o modelo pedagógico adotado nas suas aulas.
Nesta formação foi essencial contextualizar o modelo em causa, referindo não existirem escolas Movimento da Escola Moderna (MEM), por se tratar de um modelo, e não de um método, bem como por todas as especificidades de ideologia e de prática que o caraterizam, tornando-o um modelo flexível e dinâmico face ao contexto e ao indivíduo. No entanto, podemos assumir com orgulho que é um modelo de ensino adotado pelos grupos pedagógicos de todas as valências educativas d’ A Voz do Operário e consequentemente pelos seus educadores e professores. Desta realidade surgiu a necessidade de colocar a Educação Física como extensão do modelo na escola.
Apesar da Educação Física ter sido sempre uma área de grande relevância, quer a nível educacional, quer a nível associativo, n’ A Voz do Operário, em 2007, quando a professora começou a leccionar na escola, verificou que não tinha sido adotado este modelo na disciplina.
Através da sua formação universitária pelas disciplinas de Pedagogia e psicologia pôs sempre em prática um dos princípios base para uma educação justa e democrática, a Diferenciação de Ensino. Mas, pelo que observava nas salas de aula das professoras titulares do 1º ciclo, percebeu que muito mais podia ser feito para uniformizar os instrumentos de monitorização e aprendizagem e chegar ao que ela própria entendia como Aprender.
A Educação Física estava isolada e não existia partilha pedagógica nesta área, pelas complexidades da disciplina, quer a nível espacial, curricular, material, quer pela carga letiva e pela desvalorização da disciplina face às outras.
Após ter verificado resultados muitos positivos nos alunos individual e coletivamente, a professora questionou, pesquisou e adaptou com a cooperação dos colegas com formação em MEM, instrumentos de pilotagem/monitorização. Contudo, e tal como ao longo dos anos se verificou, tal é um processo sempre em transformação e flexível perante o contexto educativo.
Como preletora, partilhou com os colegas os pontos positivos, obstáculos e estratégias. Referiu que além de ser um processo sempre em transformação e adaptação, tem como intenção aplicar todas as bases da sintaxe do modelo, e os resultados obtidos tornamse as razões da professora continuar o seu percurso.
Por ser uma pedagogia que não é conhecida por todos os professores/treinadores, a professora insistiu mais na Operacionalização, isto é, em explicar como é possível adotar o modelo em Educação Física nas duas valências.
Raquel Duarte apresentou todos os instrumentos de monitorização utilizados pelos alunos: a Lista de Verificação, onde estão descritos todos os conteúdos que o aluno tem que aprender, os que vai trabalhandoe o nível dos conteúdos já avaliados, através de autopropostas de verificação; a grelha de planificação é um quadro onde os alunos planificam quinzenalmente os conteúdos escolhidos por eles a serem trabalhados; a Grelha de Companheiros de Aprendizagem, que consiste nos registos de parcerias e ,por fim, os critérios de avaliação, onde estão descritos os níveis de desempenho para o perfil do aluno, permitindo-lhe tomar consciência do que é um aluno de nível 5, 4 ou 3.
Foi explicado como os alunos, em coletivo, constroem em democracia o seu processo. No conselho de cooperação educativa fazem a organização e planificação curricular, a diferenciação de ensino, o conhecimento de níveis de desempenho e organização de parcerias e balanços.
Apresentou-se um vídeo realizado com uma aluna do 2º ciclo a explicar como se monitoriza o processo democrático e cooperativo da aprendizagem. Assim, foi possível ver como os alunos se apropriam deste modelo e o conseguem aplicar facilmente. Demonstrou-se, através de fotografias, os diferentes tipos organização de aula por estações, com várias matérias em simultâneo, com a gestão democrática e cooperada e o cumprimento do planeamento por etapas.
A ação terminou com as razões pelas quais a professora considera o modelo mais apropriado para a realidade educacional dos seus alunos. Em relação aos alunos destaca-se o desenvolvimento da autonomia, das tomadas de decisão, da confiança, da responsabilidade e do interesse. A consciência do conhecimento dos conteúdos a cumprir, melhoria dos níveis de desempenho, o desenvolvimento da cooperação e parcerias, o desenvolvimento individual através do respeito, empatia e relação para com os outros.
Quanto à professora, esta obtém uma organização pedagógica e diferenciação de ensino simplificada, sente uma melhoria da qualidade de relação com os alunos, bem como o conhecimento mais profundo de cada um e do grupo como um todo. É determinante na vinculação dos fatores sócio-afetivos que prevalecerão nas vidas dos alunos, a descentralização do seu papel no processo, colocando-se como mediadora. Destaca-se ainda a valorização da Educação Física face às outras disciplinas, através do trabalho em cooperação com outros colegas, com projetos pluridisciplinares e partilha de experiência pedagógica.
O balanço feito pela professora foi bastante positivo, pelo debate e pelas questões levantadas pelos participantes, levadas pela curiosidade e manifesto do interesse pelo modelo.