Voz

Apoio Domiciliário

Virar costas ao medo para ajudar os mais idosos

Há cerca de dois meses e meio que os mais idosos enfrentam o medo de uma pandemia que impôs o isolamento a uma camada da população que já vivia sob o signo da solidão. No Laranjeiro, A Voz do Operário rompe o silêncio com o serviço de apoio domiciliário.

Raquel Baltazar é psicóloga e coordena o apoio domiciliário d’A Voz do Operário no Laranjeiro, um serviço que conta com três funcionárias. Duas delas têm estado durante os últimos dois meses e meio na linha da frente. Protegidas com máscaras, luvas e desinfetante, garantem que não falta higiene e alimentação a nenhum dos idosos apoiados pela instituição. A coordenadora deste serviço descreve o trabalho que estas mulheres desempenham todos os dias úteis, das 8 às 16 horas, rompendo o isolamento em tempos de quarentena como um quebra-gelo que abre caminho à solidariedade e ao afeto.

As diferentes necessidades de cada utente são avaliadas e cada um deles é distribuído numa escala que inclui higiene pessoal e habitacional, alimentação e tratamento da roupa. As ajudantes familiares, funcionárias d’A Voz do Operário, distribuem os almoços com uma carrinha estabelecendo zonas de proximidade. “A volta começa às 12 horas e é feita sempre da mesma forma para haver uma rotina nas refeições”, sublinha Raquel Baltazar.

Desde que começou a pandemia, o isolamento e a necessidade de regras mais apertadas de higiene e segurança veio alterar o modo de trabalho no serviço de apoio domiciliário. A psicóloga explica que a comida dantes era servida nas marmitas d’A Voz do Operário e que agora é levada dentro de material descartável. “As ajudantes familiares não entram em casa por causa da covid-19”.

Munidas de bata, avental, máscara, viseira e luvas, para além de desinfetante, procuram proteger os utentes e proteger-se num serviço que é essencial junto de uma camada da população mais fragilizada neste contexto de crise sanitária. Apesar de todos os cuidados, Raquel Baltazar reconhece que houve utentes que suspenderam o serviço devido à pandemia e deu o exemplo de um casal que recebia alimentação e cuidados de higiene por parte d’A Voz do Operário mas ficou ao cuidado do filho.

Mas se é verdade que os receios naturais dos mais idosos cresceu com a pandemia também houve pedidos de ajuda. “Uma senhora para higiene e um casal para alimentação deram entrada durante este período”, refere a psicóloga que faz um retrato geral dos utentes deste serviço. “A maioria é acamada. Por si só, não saem de casa e a maior parte deles costuma ter alguém com eles. Havia receio das famílias por causa da doença, apesar de todos os nossos cuidados. Mas é normal. Há sempre famílias que ficam reticentes”.

Naturalmente, este não é um receio alheio à sociedade em geral. As próprias ajudantes familiares tiveram algum receio no princípio, mesmo com materiais de proteção, quando tudo era ainda mais incerto e desconhecido. Ainda assim, viraram costas ao medo. “A firmeza destas ajudantes familiares foi muito importante para a instituição e para os utentes”, considera Raquel Baltazar. Passados dois meses e meio, as medidas de segurança são as mesmas. “O receio já não é tão evidente. Começaram a perceber como é que era melhor para elas e para os utentes sabendo que não querem ficar doentes nem querem contagiar ninguém”.

Para a psicóloga d’A Voz do Operário no Laranjeiro, a alegria contagiante destas funcionárias é outra arma fundamental para derrotar o medo e o isolamento. “Elas são pessoas muito animadas, muito bem dispostas, e têm muito influencia nos utentes. Os utentes já reagem da mesma forma brincalhona. Se calhar neste período do confinamento acaba por ter um impacto diferente e haver alguma descontração é importante”.

Este é um serviço imprescindível neste contexto, considera. “Para os nossos utentes é primordial. Por causa da higiene e da alimentação. Muitos não cozinham e nós continuamos a garantir necessidades básicas, independentemente da situação”.

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