Editorial

editorial

Não podemos ser nós a pagar a crise

É inédita a crise sanitária que afeta praticamente todo o planeta. Perante a clausura de milhões de pessoas, em Portugal e no mundo, há dois elementos que são cada vez mais evidentes.

Por um lado, a absoluta necessidade de um Estado ao serviço dos trabalhadores e do povo, com serviços públicos de qualidade e, neste caso concreto, um Serviço Nacional de Saúde capaz de enfrentar esta pandemia. Durante anos, PS, PSD e CDS-PP apostaram no ataque às funções sociais do Estado e preferiram investir o nosso dinheiro na banca. Estaríamos, certamente, mais bem preparados para salvar vidas se as escolhas tivessem sido outras.

Outro dos elementos que sobressai é a necessidade de valorizarmos quem trabalha. É absolutamente claro que quem faz mover o mundo são os trabalhadores. Quem cuida da nossa saúde, quem trata de que tenhamos produtos nos supermercados, quem recolhe o nosso lixo, quem garante que não nos falte água, luz e gás, quem nos transporta, quem toma conta dos nossos idosos e muitos outros, para quem faltariam dezenas de páginas para enunciar, são absolutamente essenciais à nossa vida. Esses que, há anos, são maltratados pelos diferentes governos e pelas administrações das suas empresas merecem bem mais do que o nosso aplauso. Merecem que nos juntemos a eles quando exigem mais direitos e melhores condições de vida.

Se do lado de quem nos governa há um apelo constante para remarmos juntos, o facto é que nunca quiseram que remassemos juntos. Quiseram e querem que voltemos a remar sozinhos como no tempo da troika, puxando com a força dos nossos braços toda a economia, permitindo que, uma vez mais, grandes empresas e bancos não exerçam qualquer esforço.

As medidas anunciadas pelo governo, com o beneplácito do Presidente da República, não são apenas insuficientes. São criminosas porque permitem que perante uma calamidade destas dimensões milhares de trabalhadores sejam despedidos, percam rendimentos e se vejam sem qualquer protecção, enquanto as contas continuam a bater ao fim do mês.

A União Europeia, que já estava em estado crítico depois do período da troika, está agora ligada às máquinas, enquanto os seus dirigentes se abstêm de agir de forma decidida para intervir de forma solidária. Nada de novo debaixo do Sol. Abril é mês de revolução e se as atuais circunstâncias não nos permitem sair para as ruas como desejaríamos, importa que estejamos preparados para lutar.

Artigos Relacionados