Vivemos tempos difíceis, de complexidade e incerteza com a pandemia da Covid19, a qual constitui uma séria ameaça em termos de saúde pública, representando para já um grande condicionamento à vida de muitas pessoas, podendo vir a ter impactos significativos a nível económico, com especial incidência nos trabalhadores, caso não sejam tomadas medidas eficazes, designadamente ao nível da manutenção do rendimento das famílias. Infelizmente, as medidas anunciadas pelo Governo ou são claramente insuficientes ou vêm até ao arrepio daquilo que a presente situação exige, perspetivando-se já um grande aumento do desemprego, designadamente ao nível dos trabalhadores com maior precariedade laboral, ao mesmo tempo que parte das pessoas que mantêm o seu vínculo vêem o seu rendimento reduzido em um terço.
Naturalmente que as medidas decretadas tiveram impacto n’A Voz do Operário, designadamente ao nível das atividades educativas que passaram a ser desenvolvidas à distância, enquanto as associativas foram suspensas. Por outro lado, num momento em que a solidariedade faz ainda mais sentido, mantêm-se as valências de refeitório social e apoio domiciliário e garantimos as refeições aos utentes do Centro de Convívio, agora com entrega nas suas casas.
Com grande dedicação e empenho, está a ser desenvolvido um esforço para, mesmo à distância, as equipas pedagógicas de cada valência prosseguirem o desenvolvimento do trabalho educativo, articulando diretamente com as famílias e explicitando os procedimentos a adotar, tendo como objetivo, para além dos aspetos letivos, manter uma ligação afetiva e de proximidade com as crianças e as famílias.
A grande maioria dos trabalhadores d’A Voz do Operário mantém-se no ativo, com uma parte significativa da área educativa a trabalhar em casa, enquanto outros trabalhadores continuam a trabalhar a partir das instalações, incluindo os que estão inseridos na atividade social. Temos alguns trabalhadores em casa por outras situações, designadamente por terem de ficar com os filhos com menos de 12 anos ou por serem considerados em situação de risco relativamente à pandemia.
No mês de março garantimos o vencimento na íntegra a todos os trabalhadores, situação que esperamos poder prosseguir nos próximos meses, desde que as receitas o permitam, designadamente aquelas que, nestes tempos de exceção, pugnamos sejam reforçadas pelas entidades públicas para apoio ao serviço à comunidade que continuamos a prestar praticamente na íntegra, embora nalguns casos em moldes distintos.
Evidentemente que só o faremos se tal for compatível com a sustentabilidade d’A Voz do Operário, caso contrário seria o seu futuro que estaria a causa, e consequentemente a própria manutenção dos postos de trabalho.
Enviámos uma comunicação aos encarregados de educação, manifestando a nossa intenção de reduzir as mensalidades relativamente às refeições e a outros serviços que deixaram de ser prestados, mantendo-se o valor da parte letiva, a qual continua a envolver todos os trabalhadores destas valências, salientando que temos recebido muitas opiniões de pais bastante favoráveis ao trabalho que estamos a desenvolver.
Transcrevo parte de uma comunicação da área pedagógica da Voz do Operário, que representa bem o espírito com que estamos imbuídos: “Enquanto projeto da Humanidade, a comunidade escolar e, em particular, a relação entre a escola e a família, desempenha um papel inquestionável no domínio da Cidadania e na orientação do mundo para os valores democráticos, na medida em que constitui um importante contexto de formação e socialização e um espaço inesgotável de promoção de experiências cívicas e de relações afetivas e significativas. Por outras palavras, a história tem-nos ensinado que é nos momentos de crise que a força do coletivo emerge. Nós somos o coletivo”.
Estes são tempos difíceis a nível global, que implicam a adoção de medidas concretas para que não sejam mais uma vez os mesmos a pagar a fatura. A pandemia tem de ser enfrentada e combatida com determinação, reforçando os meios e os recursos indispensáveis à defesa da saúde e da vida, não podendo ser usada como pretexto para atacar os direitos dos trabalhadores. Só mantendo os seus rendimentos será possível ultrapassar a crise sem grandes sequelas no tecido social.
