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Janeiro acaba em luta “contra propostas insultuosas”

Centenas de serviços públicos e instituições fecharam devido à greve dos trabalhadores da Função Pública, que estão em protesto contra “propostas insultuosas do Governo” como o aumento salarial de 0,3%, lembrou a Frente Comum. “Os serviços de saúde estão nos mínimos”, afirmou à Agência Lusa a coordenadora da Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública, Ana Avoila, assegurando ter conhecimento de “centenas e centenas de serviços fechados”.

Entre os principais motivos para o protesto estava a proposta “insultuosa como a que o governo fez de aumentos de 0,3% aos trabalhadores da Administração Pública”, recordou Ana Avoila durante a conferência de imprensa realizada nessa manhã em frente ao Liceu Passos Manuel, em Lisboa. Para a representante dos trabalhadores “não há argumentos para o governo fazer o que fez durante o período da Troika” porque agora “há dinheiro” e margem para avançar com aumentos salariais que permitam, pelo menos, recuperar os congelamentos salariais.

Para além da forte chuva que se fez sentir, as ruas de Lisboa encheram-se com um rio de gente que desembocou em frente à residência oficial do primeiro-ministro. Do Marquês de Pombal, milhares de trabalhadores de todo o país caminharam em protesto até ao Palácio de São Bento. Foi o caso de Conceição Carvalho. A auxiliar de ação educativa chegou de Coimbra para exigir mais respeito pela educação. “Estou aqui porque há 24 anos que trabalho e desde que entrei foi sempre a perder vencimento e sinto-me desrespeitada”, afirmou à A Voz do Operário. “Sinto que não sou valorizada, independentemente de ser docente ou não docente hoje não há respeito pela educação. Há muita degradação, menos funcionários. Por exemplo, blocos de 20 salas com 300 alunos que funcionam com dois ou três funcionários e quando entrei eram quatro ou cinco”, denunciou.

Conceição explica que “felizmente” o ordenado mínimo subiu nos últimos anos mas o poder de compra foi sempre a cair. “Há 24 anos conseguia juntar qualquer coisa. Hoje, não consigo. O nosso ordenado é gasto em despesas do dia-a-dia”, recordou. “Efetivamente este orçamento é insuficiente. Ao fim de dez anos que os trabalhadores da administração pública estão sem um aumento salarial, darem-nos 0,3%, ou seja, 1,91 cêntimos num ordenado de 635 euros, é brincarem connosco”.

Já Bruno Lopes, vigilante e rececionista na Casa Museu Anastácio Gonçalves, em Lisboa, decidiu participar na manifestação também para denunciar a precariedade “que vai sendo escamoteada com recurso a trabalho temporário com empresas negligenciando as necessidades permanentes”. Trabalha há 10 anos no setor da cultura e recorda que trabalha aos sábados, domingos e feriados sem qualquer compensação, sem poder estar com a família. “Temos muito mais trabalho hoje. Há mais visitantes e menos funcionários. Portanto, há mais receita e ganhamos pouco”.

Na manifestação era evidente também a presença de um largo número de professores. À A Voz do Operário, Catarina Teixeira explicou estar no protesto para “defender os direitos dos professores, também por mais aumentos salariais, por horários dignos e pela estabilidade do corpo docente”. Esta professora que trabalha na Santa Casa da Misericórdia denunciou a precariedade existente e os horários de trabalho. “A falta de pessoal é acentuada”, descreveu. Nesse sentido, entende que este orçamento é insuficiente. “Mais uma vez estamos a dar dinheiro aos bancos em vez de investirmos na educação e na saúde”, sublinhou.

Na ação estava também André Trindade, trabalhador da administração pública na Direção-Geral de Agricultura onde exerce como técnico superior. “Estou aqui para defender as alterações que o sindicato propõe para o Orçamento do Estado, nomeadamente os 90 euros”, explicou. Para André, 0,3% é uma proposta “ridícula”. Para além disso, recordou o problema das carreiras. “O SIADAP impossibilita que uma pessoa que entre para a Função Pública tenha qualquer tipo de progressão. São precisos perto de cem anos para se chegar ao topo da carreira”.

Congresso da CGTP-IN, 14 e 15 de fevereiro

O secretário-geral da CGTP, Arménio Carlos, considerou “marcante” a resposta que os trabalhadores deram ao governo com a forte adesão à greve e à manifestação nacional em Lisboa, esperando que o executivo ouça os trabalhadores. “Esta luta é marcante do ponto de vista da resposta dos trabalhadores da administração pública”, afirmou no final da manifestação.

Arménio Carlos, que deixará de ser secretário-geral da CGTP no próximo congresso, que se vai realizar no Seixal, considerou que o seu mandato “não podia acabar melhor”, sublinhando que esta não será a sua última manifestação, pois continuará a participar nas ações de luta enquanto trabalhador.

Durante dois dias, centenas de representantes dos trabalhadores filiados em sindicatos da CGTP vão debater as orientações para os próximos anos e eleger uma nova direção.

“Enquanto continuarmos a ter injustiças e desigualdades, aqueles dirigentes que saem da CGTP em meados de fevereiro continuarão fiéis ao projeto da CGTP e a estar ao lado dos trabalhadores, seja do privado ou do público”, frisou o secretário-geral da intersindical em declarações à Agência Lusa.

Arménio Carlos sublinhou que este protesto foi “um exemplo de descontentamento e indignação contra uma proposta desrespeitadora dos direitos” dos trabalhadores da administração pública, defendendo ser “inaceitável” a proposta de aumentos salariais de 0,3% após dez anos sem atualização remuneratória.

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