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A Voz continua a crescer

Já há brincadeiras no novo Espaço Educativo d’A Voz do Operario, a Creche da Quinta dos Ourives, no Beato em Lisboa

Abrir um novo espaço educativo não deixa de ser um desafio porque se o edifício não é mais do que quatro paredes e um tecto uma creche d’A Voz do Operário é uma família. É aqui que se começa a construir aprendizagem e conhecimento e, sobretudo, memórias. Os primeiros passos, mesmo para os que ainda não sabem andar, são os que custam mais. Todas as semanas, chegam novas crianças para um projeto educativo único que visa princípios de “cooperação, partilha e trabalho muito direto e constante com as famílias”, explica a diretora deste espaço.

De acordo com Bárbara Ramires, a diferença é estar-se perante um “modelo pedagógico inscrito nos princípios do Movimento da Escola Moderna”, onde não se está “apenas a tomar conta de crianças” ou a “ditar ordens”, tendo a ideia de que o educador é alguém que ampara as escolhas das crianças “sem os obrigar a fazer alguma coisa”. E dá exemplos. “Há muita coisa que na creche se pode começar a fazer. Desde a própria divisão de tarefas, que muitas vezes se pensa apenas para os miúdos mais crescidos, e aqui há crianças que podem ser responsáveis por dar água aos amigos, outros que podem ajudar a arrumar a sala. Numa fase em que ainda têm dificuldade em partilhar, algo que faz parte desta faixa etária, começam assim a fazer pequenas partilhas”.

Só que esta construção não se faz apenas entre educadores, auxiliares e crianças. As famílias são parte fundamental do projeto e Bárbara Ramires considera que são um importante pilar de tudo o que se passa neste espaço educativo. Nesse sentido, recorda que agora haverá um período de adaptação, que não passa apenas pelas famílias e pelas crianças, mas também dos próprios trabalhadores que se estão agora a conhecer. Esta equipa nova, composta por quatro educadoras e 11 auxiliares, está sob a coordenação técnico-pedagógica de Paula Escapa, que já passou pelo espaço educativo d’A Voz do Operário na Graça. Neste processo considera que houve vantagem de abrir durante o mês de agosto porque isso permitiu uma semana de preparação pedagógica, algo que nem sempre é possível na abertura de novos espaços educativos. “Foi um trabalho em conjunto em que conversávamos sobre as rotinas, jogos de equipa e cooperação, sobre o modelo pedagógico. Todos os dias fizemos uma coisa diferente e, ao mesmo tempo, fizemos parte integrante da construção, montar alguma coisa que faltasse, ver os materiais, e cada uma ver já qual era a sala onde ia fazer o seu trabalho, estar com os colegas da sua sala, tudo isto é super vantajoso quando se começa uma equipa”.

Paula Escapa, com uma experiência de duas décadas na área da educação, considera este novo desafio como o ato de “semear algo” para colher no futuro. Desde o primeiro dia, há quem chegue com a ansiedade própria de quem estreia um novo lugar. Das crianças às famílias, todos precisam de “colo” para esta adaptação. “Estamos a criar juntos o nosso caminho”, opina. Antes de chegar uma nova criança, pede-se à família alguns dados. “Perguntamos sempre como é que eles interagem com outras pessoas. Quais são as dificuldades que sentem em casa, para que nós também, de alguma forma, possamos trabalhar essas mesmas dificuldades. Os pais são convidados a estar os primeiros dias com eles em sala. Percebemos como é que eles interagem com os outros e como interagem connosco. E depois é dar muito colo, muita atenção”, descreve.

A ajudante de ação educativa Paula Miguel corrobora esta opinião e considera que este processo de adaptação está a ser uma boa experiência. “É algo emocionante poder agarrar um projeto desde o início, desde a raiz”. A trabalhar no berçário, diz que se identifica com o modelo pedagógico d’A Voz do Operário e que é enriquecedor estar envolvida neste novo projeto.

Por outro lado, Marta Nunes, uma das educadoras deste espaço, diz que as trabalhadoras se vão ajustando com as suas próprias particularidades ao trabalho coletivo. “Temos todo o ano letivo pela frente e há um bom entendimento, cooperação e compreensão. As crianças também se vão apropriando do espaço e o momento é de criação de afetos com os adultos. A parte da socialização vem depois, mas é natural. Como são crianças que vêm de um ambiente familiar e passavam muito tempo com as mães, a princípio nem sempre é fácil”. É um desafio que preenche estas paredes da creche. Aos poucos as gargalhadas e as brincadeiras vão tomando conta do espaço. É mais um espaço educativo que se junta a este projeto centenário d’A Voz do Operário que, passo a passo, já vai a caminho dos 143 anos.

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